Título: CPI quer saber se Valério quitou empréstimo de Lula com o PT
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Nacional, p. A4

Agora é Lula o alvo da CPI dos Correios, que ontem exigiu do presidente da República explicações pormenorizadas sobre o pagamento parcelado que ele teria feito ao Partido dos Trabalhadores relativo a um empréstimo contraído em 2001 no montante de R$ 29.436,26. Enquanto, na Esplanada dos Ministérios, estudantes desfilavam uma enorme mala preta, com slogans contra a corrupção, a CPI anunciava seu novo plano: saber quem fez os depósitos em conta do fundo partidário do PT no Banco do Brasil, quitando a dívida de Lula. A oposição suspeita que o esquema do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza cobriu essa despesa do presidente. Lula tomou o empréstimo para cobrir gastos com viagens ao exterior em 2001, pagamento de passagem para sua mulher, d. Marisa Letícia, e "adiantamentos a funcionário que teriam ocorrido em 1997". O problema do presidente está aí - o dinheiro saiu do Fundo Partidário do PT, o que é expressamente proibido por lei. O fundo é abastecido com recursos públicos - verba orçamentária e valores arrecadados por meio de multas eleitorais. Todo ano, o Tesouro injeta cerca de R$ 120 milhões nos cofres dos fundos dos partidos. O PT recebe R$ 1,5 milhão por mês.

Esse dinheiro só pode ter quatro destinações: manutenção do partido, alistamento eleitoral/campanhas, 20% para a fundação da agremiação e 20% para gastos com pessoal. O PT mantém 3 contas do seu fundo partidário na agência 3344-8 do Banco do Brasil em São Paulo, Avenida São João, 32, Centro. Uma das contas é a 13.000-1. Dessa conta saiu o dinheiro que Lula usou para viagens à China, França (duas vezes), Portugal e Itália.

Documento que o BB enviou à CPI revela que o reembolso foi feito por quatro depósitos na 13.000-1. Parte do pagamento, a 30 de dezembro de 2003 - um depósito de R$ 12 mil, outro de R$ 6 mil. Um mês depois, foram pagos mais R$ 6 mil. O banco não informa quando foram pagos os R$ 5.436,26 restantes.

O documento do BB mostra Lula como depositante, no campo "registro da origem". Esse dado põe em xeque versão divulgada ontem pelo presidente do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), Paulo Okamoto - ex-tesoureiro da campanha eleitoral de Lula em 1989 -, que assumiu o pagamento. Okamoto disse que foi nomeado procurador de Lula em dezembro de 2002 " exclusivamente para tratar da rescisão do seu contrato de trabalho com o PT". O partido apresentou um pré-cálculo da rescisão e informou sobre o valor de R$ 29.436,26 em aberto. Okamoto aceitou parcelamento. Utilizou o equivalente em reais a aproximadamente US$ 3,5 mil, que teriam sobrado dos gastos das viagens e estavam em poder do PT. O restante? "Foi coberto com retiradas de minhas contas no BB e do Bradesco, devidamente documentadas."

GENEROSIDADE SUSPEITA

Tanta generosidade de Okamoto despertou suspeitas na CPI, que propõe a quebra do sigilo do presidente do Sebrae. A oposição acredita que Okamoto assumiu o papel de laranja e que a versão para o pagamento teria sido montada durante viagem que o presidente fez a Garanhuns (PE) semana passada. Okamoto fez parte da comitiva. "Tem muita coisa estranha", assinala o deputado ACM Neto (PFL-BA). "O BB enviou documento em que o registro de origem do depósito é claro, Luiz Inácio Lula da Silva. Não há outro nome. Se o BB maquiou isso, é fato gravíssimo, a utilização de banco público para acobertar uma manobra política."

O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) enfatizou: "O dinheiro pode ter surgido de Marcos Valério porque, se esse esquema não tivesse nada com o pagamento dos empréstimos do presidente, o Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) teria explicado quando veio à CPI."