Título: Lista 'imprestável' tumultua CPIs
Autor: Eugênia Lopes e Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Nacional, p. A8

A divulgação de uma nova lista de 120 políticos mineiros beneficiados pelo empresário Marcos Valério, incluindo tucanos de peso, incendiou ontem a sessão conjunta das CPIs do Mensalão e dos Correios. Apresentada pelo vice-presidente da CPI do Mensalão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a lista não era do conhecimento dos demais integrantes. Por causa disso, o parlamentar pode ser alvo de um processo no Conselho de Ética da Câmara. Pimenta disse inicialmente ter recebido a relação das mãos do próprio Valério depois do depoimento do empresário encerrado na madrugada de ontem. O detalhe é que os dois foram juntos até a garagem do Senado e saíram de lá no carro de Valério. Mais tarde, diante da reação negativa, mudou de versão: afirmou ter obtido os documentos na própria CPI e acrescentou que eles faziam parte dos autos de uma ação em curso no Supremo Tribunal Federal - o que acabou sendo desmentido.

"Fiquei apenas cinco minutos no carro", tentou explicar Pimenta. "Meu objetivo era checar porque essa lista tinha mais nomes que os 75 apresentados por Valério no depoimento à CPI." O empresário disse que a diferença se devia ao fato de que a relação de 120 depósitos incluía cerca de 45 operações das quais não tinha comprovante.

A relação indica que 37 deputados federais e estaduais de Minas eleitos em 1998 teriam sido beneficiados por um esquema de arrecadação de recursos públicos organizado pela agência SMPB. O total distribuído chegaria a R$ 10,8 milhões, e não apenas ao R$ 1,8 milhão da lista oficialmente entregue à CPI.

Os papéis registram supostos repasses para candidatos dos 11 partidos da coligação encabeçada pelo então governador Eduardo Azeredo (PSDB), candidato à reeleição. O curioso é que o próprio PT aparece na lista de pretensos beneficiados, embora a legenda tenha apoiado Itamar Franco (PMDB) no segundo turno.

ENDURO

Os documentos apresentados por Valério sugerem que a origem de parte do dinheiro distribuído - R$ 8,5 milhões - seria patrocínios do governo mineiro ao Enduro da Independência, promovido pela SMPB. O Ministério Público Federal já move processo contra Azeredo por causa do suposto desvio desses recursos para sua campanha.

Tão logo Pimenta divulgou a lista, os tucanos reagiram com indignação e apresentaram requerimento de abertura de processo contra o petista. "É gravíssimo. Valério disse que não ia divulgar a lista e acaba passando-a na surdina para um deputado do PT", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).

Diante da fragilidade dos papéis, tanto a CPI do Mensalão quanto a dos Correios decidiram não levar a nova lista em consideração. "É um dossiê imprestável e inservível", disse o presidente da primeira comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO). "Estas listas não têm credibilidade, só servem para gerar instabilidade política e tiram a credibilidade das CPIs", afirmou o líder do Governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).