Título: Dados enviados pelo Rural à CPI foram fraudados, diz PF
Autor: Vannildo Mendes e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Nacional, p. A12

Perícia técnica realizada pela Polícia Federal constatou que estão distorcidos os dados enviados pelo Banco Rural à CPI dos Correios, contendo as operações de crédito, débito, transferências bancárias e saques de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do mensalão. De um total de seis arquivos, quatro apresentaram irregularidades, como transações apagadas ou modificadas, para mais ou para menos. Os arquivos supostamente adulterados contêm cerca de 39 mil registros de operações. "Não se pode ainda confirmar o tipo de dolo, mas o laudo reforça a tese da cumplicidade absoluta entre o PT, Marcos Valério e o Rural", disse o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), integrante da CPI. O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pediu cautela. "Em um arquivo, a perícia verificou 52 mil registros e só 143 podem representar falha técnica. Portanto, é preciso muito critério, muita prudência. O que não queremos é exatamente criar dificuldades a uma instituição (Rural) que já está sob nosso crivo e levantarmos suspeita precipitada."

O laudo, assinado por dois peritos da PF e aprovado pelo delegado encarregado do inquérito, foi entregue ontem à noite à CPI, que decidiu adotar medidas imediatas: um novo pedido de busca e apreensão no banco e a antecipação do depoimento de sua diretoria.

Hoje uma delegação da CPI vai ao banco pedir explicações de dirigentes e técnicos. A primeira suspeita é que as modificações tenham sido engendradas para fazer a contabilidade eletrônica do banco coincidir com a versão de que o dinheiro transferido por Valério ao PT e os partidos da base aliada provinha de empréstimos para financiar o caixa 2 dessas legendas.

As mudanças podem conter falsificação de valores, omissão de sacadores, ou mesmo acréscimo de operações fantasmas, para fazer o valor dos empréstimos bater com doações de verbas de campanha a parlamentares e partidos.

"A fraude se caracteriza pela inclusão ou supressão de informação", analisa o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sub-relator da Sistematização dos Trabalhos da CPI dos Correios. "O laudo demonstra e evidencia que houve alteração, mas só poderemos falar se houve fraude quando ficar constatado que as mudanças foram feitas para favorecer Valério."

Dos quatro arquivos que teriam sido adulterados, dois apresentam manipulações consideradas graves. Num deles, que deveria conter 35 mil registros, existem apenas 5 mil. Noutro, em vez de 7 mil registros, estão inseridos 17 mil. A perícia foi basicamente sobre a matemática dos arquivos, por isso não dá ainda para fazer a leitura correta das intenções dos manipuladores. Isso será feito por uma equipe de técnicos do Banco Central e da Receita à disposição da CPI. "Foi uma análise de sistema, não do mérito e por isso precisa ser aprofundada", explicou um delegado que trabalha no caso. A perícia foi produzida sobre todos os arquivos magnéticos enviados pelo Rural à CPI, relativo às movimentações das empresas de Valério de 1998 a 2005.