Título: Poucos países têm interesse em punir Teerã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Internacional, p. A14

Os Estados Unidos terão muita dificuldade para encontrar aliados favoráveis à imposição de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Isso no caso de aquele país manter a decisão de levar adiante seu projeto nuclear, classificado de militar pelos americanos. Com sua gigantescas jazidas de petróleo e sua posição estratégica entre o Iraque e no Afeganistão, o Irã parece levar boa vantagem. Muitos países não teriam nenhum interesse em punir Teerã.

Rússia e China querem evitar pôr em perigo suas relações comerciais com o grande produtor de petróleo.

O Irã explora também outro fato: uma eventual nova intervenção militar dos Estados Unidos seria pouco provável. Pequim já deixou claro que não concorda em levar o caso iraniano à ONU.

"O Conselho de Segurança já está abarrotado de assuntos. Por que levar-lhe mais um?", perguntou ontem o embaixador chinês nas Nações Unidas, Wang Guangya. "Creio que nem a União Européia nem o Irã abandonaram seus esforços em busca de uma solução negociada", acrescentou Wang. "O Conselho de Segurança não é a jurisdição apropriada para esse tema." Pequim insistiu que a questão deve ser resolvida no âmbito da Associação Internacional de Energia Atômica. (AIEA).

Teerã adota, por sua vez, uma estratégia de mensagens contraditórias. O governo iraniano rechaçou a última proposta da União Européia para abandonar seu projeto de produção de urânio enriquecido, mas se diz pronto para retomar as negociações.

"O governo do Irã golpeia com uma mão e oferece a outra", resumiu Shibley Telhami, um analista da Universidade de Maryland.