Título: Irã reinicia transformação de urânio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Internacional, p. A14

Técnicos iranianos romperam ontem os lacres colocados há nove meses pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) , órgão da ONU, em várias instalações da central nuclear de Isfahan, que agora opera com toda sua capacidade. A decisão, anunciada pela Organização de Energia Atômica iraniana, representa um agravamento do confronto entre Irã de um lado e Estados Unidos e União Européia do outro. Os EUA acusam o Irã de mascarar seu programa nuclear, que estaria voltado para a fabricação de armas nucleares. A UE concorda. Argumenta que para não deixar nenhuma dúvida sobre suas reais intenções seria melhor que o Irã importasse urânio, o que facilitaria o controle externo. O Irã nega qualquer plano militar. E diz que pretende, sim, processar combustível nuclear em vez de importá-lo.

A central iniciou a transformação de urânio em pó em gás hexafluoreto UF6. Essa etapa é necessária para quem quer processar combustível nuclear com fins pacíficos, mas é também a fase anterior à produção de urânio enriquecido - a matéria-prima da bomba atômica. Isfahan (no centro do país) já havia reiniciado suas atividades na segunda-feira, mas em setores secundários de produção.

O governo americano reagiu ao novo passo dado por Teerã. "É uma nova demonstração do desprezo que o Irã tem pelas legítimas preocupações da comunidade internacional", reagiu Matt Boland, porta-voz da delegação dos EUA na AIEA.

Por sua vez, a UE, que havia feito ofertas de ajuda econômica e tecnológica ao governo iraniano em troca do encerramento do projeto de enriquecimento de urânio, enviou um rascunho de resolução ao conselho de governadores da AIEA no qual exige do governo iraniano a imediata paralisação dos trabalhos na usina nuclear de Isfahan.

O teor desse documento (que não foi divulgado) não contaria com o apoio de países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, que também desenvolvem projetos nucleares e temem abrir um precedente.

"Os países não alinhados (como é chamado o bloco liderado por Brasil e Índia) não querem uma resolução", disse um diplomata entrevistado pela Reuters.

E acrescentou: "No entanto, estamos conversando com esses países e mostrando a eles que são minoria."