Título: Pentecostais são o grupo que mais atrai católicos no País
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Vida&, p. A18

Os pentecostais são o grupo de evangélicos que mais atrai fiéis da Igreja Católica. De 15,2 milhões de brasileiros que mudaram de religião, 58,9% trocaram a fidelidade ao papa por uma igreja evangélica pentecostal, enquanto 13,8% preferiram igrejas evangélicas históricas e 16,3% se filiaram a outras religiões, conforme pesquisa apresentada ontem à assembléia-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, município paulista de Indaiatuba. Outros 10,9% de um universo de 2.870 pessoas ouvidas em 50 municípios, entre agosto e dezembro de 2004, disseram que se transferiram para religiões indeterminadas e 0,1% não respondeu ao questionário. "A Igreja sabia que estava perdendo fiéis - a porcentagem de católicos caiu de 73,9% para 67,2% nos últimos cinco anos -, mas não dispunha de dados sobre seu destino", disse a coordenadora da pesquisa, a socióloga Sílvia Fernandes, do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris). O levantamento mostrou que o pentecostalismo atrai mais adeptos também para a Igreja Católica, na qual essa linha é representada pela renovação carismática.

Entre os adeptos de outras religiões que migraram para o catolicismo, 26,9% vieram do protestantismo histórico e 18,7% pertenciam a alguma igreja pentecostal. Segundo o Ceris, parte desses convertidos pode ser de ex-católicos que se tornaram evangélicos e depois voltaram à sua antiga fé. Os evangélicos pentecostais que trocam de igreja preferem o protestantismo histórico (40,2%) ou outros grupos pentecostais (40,8%).

De 24% da população brasileira que já trocou de religião alguma vez na vida, a maior proporção é de divorciados (52,2%) e separados judicialmente (35,5%). A explicação, segundo o Ceris, é que a nova religião funciona como espaço de acolhida em situações de crise afetiva e sentimental. Não há grande diferença entre as porcentagens de homens (23,9%) e de mulheres (23,1%) que mudaram de religião.

MOTIVO

"Não vamos prender os católicos que querem deixar a Igreja, mas temos de nos perguntar onde é que falhamos", observou o arcebispo de Mariana (MG), d. Luciano Mendes de Almeida, ao analisar os primeiros dados da pesquisa. "Além dos cristãos que trocam o catolicismo por outras igrejas, temos de pensar naqueles que não têm filiação religiosa, mas acreditam em Deus", aconselha d. Luciano.

Por que as pessoas trocam de religião? A resposta terá interesse especial para a pastoral da CNBB. Segundo a pesquisa, 35% dos católicos abandonam a Igreja por discordar de sua doutrina. Entre os evangélicos pentecostais, o índice é de 13,9%. A falta de acolhimento foi a causa apontada por 10% dos entrevistados que deixaram o catolicismo e por 35% dos que pertenceram a outras religiões.

Boa surpresa do levantamento foi constatar que o grau de participação em pastorais ou atividades da própria religião é maior entre os convertidos, aqueles que vieram de outras igrejas. Entre os católicos, 25,4% deles participam da liturgia e 28,1% trabalham na evangelização ou na pregação. O porcentual dos que vão à missa uma vez por semana é de 24,7% entre os católicos que nunca mudaram de religião e de 33,3% entre os que já mudaram e agora se declaram católicos.

Os entrevistados avaliam positivamente sua nova religião. A nota média dada pelos católicos à Igreja é 8,8. "É uma boa nota, embora inferior à obtida pelos evangélicos, cuja avaliação foi superior a 9", disse a socióloga Sílvia Fernandes.

O Ceris, que é ligado à CNBB, concluiu que um dos grandes desafios para a Igreja é saber criar espaços de acolhimento e ajuda para um crescimento e fortalecimento da fé. "Temos de levar o pentecostalismo a sério", observou o bispo de Tefé (AM), d. Sérgio Castriani, ao analisar a pesquisa.