Título: Da mesa para a pele, a linha gourmet de cosméticos
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Vida&, p. A23

Pelo menos 90 tipos de tratamentos e cremes feitos à base de chocolate foram lançados no mercado mundial em 2004. No ano anterior, o número foi quatro vezes menor. Neste ano, cerca de 30 novos produtos chegaram às lojas especializadas nos primeiros meses. A notícia, divulgada em junho pelo Global New Products Database at Mintel, consultoria inglesa especializada em pesquisas de mercado, é uma das provas de que cosméticos feitos à base de alimentos estão entre as maiores apostas hoje da indústria da beleza. No Brasil, cremes, xampus e perfumes feitos com substâncias tiradas de alimentos receberam o nome de linha gourmet. Empresas de peso, como Boticário, Natura, Avon, L'Occitane, Viszcaya e Vitaderm, lançaram recentemente produtos com substâncias de frutas, óleos e vegetais, soja e até tremoço têm sido usados na composição de cosméticos, cada um com uma função bem específica. "Apesar da novidade propagandeada pela indústria da beleza, os alimentos são usados como produto de beleza há muito tempo. Alguns, como o leite, há milênios, desde os tempos de Cleópatra", diz Lígia Kogos, a dermatologista da maior clientela de famosos do País - entre eles estão a modelo Ana Hickmann e as atrizes Karina Bachi, Luiza Tomé, Carolina Ferraz e Ivete Sangalo.

Mas a eficácia desses produtos rende longas discussões entre os médicos. "Para fazerem efeito, eles teriam de ter uma quantidade de substâncias pelo menos oito vezes maior. Além do que muitos fitoterápicos dão problemas porque é extremamente difícil padronizar a quantidade de um extrato natural", diz Paulo Celso Budri Freire, dermatologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O médico defende um efeito positivo da linha gourmet: "O que acaba sendo realmente eficaz é o efeito psicológico provocado no consumidor. É agradável saber que se está usando um produto à base de alimentos, naturais. Sem dúvida, isso traz bem-estar."

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, Aloízio Faria de Souza, afirma que os benefícios desses produtos são limitados. Ele lembra, porém, que qualquer cosmético é assim. "Cosmético deve ser usado como coadjuvante. Nunca para ter efeito terapêutico", diz ele.

Ligia Kogos é defensora dos cosméticos. "A indústria da beleza está hoje avançadíssima. Produtos das grandes empresas raramente são lançados sem o aval de dermatologistas", diz ela. "A linha gourmet ainda traz o benefício de oferecer produtos à base de substâncias antigas, usadas por nossas avós, mas com segurança."