Título: Colono continua construindo casa
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Internacional, p. A18

NETZARIM, FAIXA DE GAZA - Pedra por pedra debaixo do sol, Yoshua Meshulami constrói há um mês uma casa para seu filho em Netzarim, um assentamento na Faixa de Gaza onde nenhum de seus 450 moradores se prepara para sair desta terra. "Para nós, nada mudou. Eles (o governo israelense) ameaçam nos despejar, mas estamos dispostos a ficar - construímos casas, plantamos tomates, consertamos os telhados e instalamos ar-condicionado em nossos lares", afirma sorridente, de cima dos andaimes, Meshulami, de 70 anos.

Os moradores de Netzarim, que estão entre os mais radicais entre as 21 colônias existentes na Faixa de Gaza, se esforçavam na quinta-feira para continuar com sua vida normal, apesar estar se aproximando o final da contagem regressiva para a retirada e do fato de que, a partir de domingo, os soldados baterão a suas portas para pedir que saiam.

"Seguimos em frente. Pretendo ficar aqui até a grande festa com a qual celebraremos nossa vitória", declarou o argentino Dan Safdie, de 21 anos, que, há dez anos, trocou Buenos Aires pelo norte de Israel. O jovem, acompanhado de outros operários israelenses, veio a Netzarim para ajudar gratuitamente a família Meshulami a construir sua nova casa. "Ao longo da história, sempre quiseram retirar os judeus de algum lugar, mas agora é diferente, são nossos próprios irmãos que nos ameaçam", afirmou Safdie.

Apesar de temerosos diante de um estrangeiro, os habitantes de Netzarim se orgulham de dizer ao recém-chegado que "ninguém saiu", apesar das ordens do Exército.

Entretanto, o posto militar da colônia já começou na quinta-feira a transportar documentos e móveis para fora do assentamento, numa tentativa vã de convencer os vizinhos a fazerem o mesmo.

Alheios à mudança feita pelo Exército, os operários não querem ouvir falar da demolição dos assentamentos e continuam erguendo paredes da casa dos Meshulamis. A moradia pretende ser o presente de casamento para um dos 17 filhos de Yoshua, que chegou ao assentamento juntamente com a família há 12 anos e acredita que nenhum governo tem autoridade para determinar sua expulsão agora.

"Uma parte de nosso povo está sem forças e tem medo, mas isso não quer dizer que nós, que não perdemos a energia, não sigamos os desígnios de Deus que nos enviou a esta terra", afirmou ele. Por isso, toda Netzarim, de onde se contempla a cidade vizinha palestina de Gaza e o mar, está vestida de laranja. As faixas colocadas nos automóveis, as camisetas das crianças e as pulseiras dos adolescentes - tudo é laranja, representando a oposição à retirada dos colonos da Faixa de Gaza.

"Nossa forma de protesto é seguir vivendo como se nada estivesse ocorrendo. Não estamos instalados na Índia nem na África. Isto aqui é Israel, e nosso governo não pode oferecer uma dádiva dessas aos terroristas", disse Itzik Batzak, um agricultor de origem espanhola que estava a caminho da sinagoga.