Título: 100 mil protestam contra retirada
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Internacional, p. A18

TEL-AVIV - Mais de 100 mil pessoas, nos cálculos da polícia, se concentraram ontem na Praça Yitzhak Rabin, no centro de Tel-Aviv, para um último grande protesto antes do início da retirada israelense da Faixa de Gaza e de quatro pequenas colônias na Cisjordânia. A primeira fase da remoção começa segunda-feira. Os militares darão prazo até quarta-feira para os colonos saírem, do contrário serão removidos à força. O Conselho Yesha, que reúne assentamentos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, disse que havia 150 mil pessoas na praça ontem e anunciou planos de reunir número semelhante na segunda-feira no posto de controle de Kissufim. Este é o controle militar na rodovia que dá acesso ao bloco de colônias de Gush Katif, o maior da Faixa de Gaza.

Durante a manifestação, os líderes deram orientações aos participantes sobre como chegar a várias cidades, como Ashkelon e Sderot, de onde eles pretendem seguir em comboios de veículos para o sul. A meta é impedir os soldados e policiais de chegarem a Kissufim.

Temendo atentados de extremistas palestinos, as autoridades israelenses mobilizaram ontem mais de 2 mil policiais para a segurança. O memorial em homenagem ao primeiro-ministro Yitzhak Rabin, assassinado nessa praça por um extremista judeu de direita há dez anos, teve também a segurança reforçada.

"Sharon está errado. Esta é nossa terra. Só pudemos voltar para cá depois de 2 mil anos e ainda temos de lutar o tempo todo", disse a dona de casa Aielit, que estava com o marido, Assaf, estudante de um seminário religioso. Eles vieram de Jerusalém para o protesto e não quiseram dar o sobrenome porque Assaf serve no Exército. "Não sei se vou segunda-feira a Kissufim. Mas se for, não pretendo fazer nada contra o Exército", acrescentou Aielit.

"Se a manifestação não for considerada legal pelo governo, eu não irei. Acredito em Deus e em um milagre. Não concordo com Sharon. Ele armou esse plano para se desviar dos problemas de corrupção envolvendo seus filhos", disse Tamim, morador de Ramat-Gam, subúrbio de Tel-Aviv. A terapeuta Pnina Bar Shalom, moradora de um kibutz perto da Jordânia, também diz acreditar que Deus estará do lado dos colonos. Ela acusa Sharon de nunca ter deixado claro os motivos da retirada. O Conselho Yesha de assentamentos anunciou ontem que vai manter os protestos até o governo antecipar as eleições parlamentares, previstas para o final de 2006.