Título: Lula deveria ouvir pessoas experientes, sugere bispo
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A16

INDAIATUBA - O arcebispo da Paraíba, d. Aldo Pagotto, presidente da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, disse ontem ao Estado que o presidente Lula deveria convocar pessoas experientes que tenham uma visão abalizada da política para ajudá-lo a discernir sinais de vida e de esperança em meio à crise. "É hora de refletirmos, até a última gota de nosso sangue, de fazer um esforço seriíssimo, invocando os princípios da ética que regem a República", adverte d. Aldo, insistindo em que, em vez de ficar viajando, "um direito que ele tem", Lula precisa escutar a opinião de pessoas mais experientes.

"A Igreja vê, grande parte dos bispos vê que o presidente está um pouco desgovernado, um pouco abalado, viajando para lá e para cá e se defendendo muito, quando seria hora de convocar algumas lideranças, além de seu conselho, para começar a recuperar aquilo que foi quebrado", disse o arcebispo.

"Um impeachment de Lula seria uma iniciativa inconveniente, inoportuna, um caminho equivocado em busca da solução", advertiu d. Aldo, acrescentando que a Igreja não está interessada em capitanear mobilizações contra o presidente. "A Igreja quer, no entanto, fazer parte de um grande mutirão em torno da respeitabilidade todas as instituições", afirmou.

Essa mobilização, segundo o arcebispo, deveria ter por objetivo a busca de um conjunto de saídas de cunho ético e moral, a partir de três conceitos: 1) apuração rigorosa e serena dos fatos; 2) responsabilização dos envolvidos e condenação de eventuais culpados; e 3) devolução ao erário público daquilo que foi surripiado.

A mobilização social em defesa das instituições democráticas, sugere d. Aldo, "postularia uma reforma política onde, pelo atual sistema, ainda há muitas brechas para a corrupção". Como considera a situação gravíssima, o arcebispo argumenta que "não é possível empurrar com a barriga e dar tempo ao tempo, para que as coisas se resolvam".

Também o arcebispo de Florianópolis (SC), d. Murilo Krieger, aposta numa solução democrática para a crise. "O Brasil é maior que esses problemas", disse d. Murilo. E os culpados serão punidos, acredita, "porque a imprensa vai impedir que as investigações terminem sem resultados práticos".

Para d. Albano Cavallin, arcebispo de Londrina (PR),

o presidente Lula precisa fazer com que as denúncias de corrupção sejam investigadas a fundo e, se houver erro, pedir perdão. "Corrupção é fruto de safadeza", afirmou o arcebispo.