Título: 'Realizei meu trabalho e encontrei uma forma de receber por ele. É a regra do jogo'
Autor: Luciana NunesLeal Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A4

OS PRINCIPAIS TRECHOS DO DEPOIMENTO DE DUDA MENDONÇA À CPI DOS CORREIOS

CAIXA 2: 'Este fato aconteceu no lamentável ano de 2003. O serviço (campanha eleitoral de 2002) já estava executado. É como o sujeito no restaurante acabar de comer e dizer que não tem dinheiro para pagar a conta. Não adianta dar uma surra nele. Na verdade era dinheiro de caixa 2 e nós sabíamos. A gente não é bobo. Mas ou recebíamos assim, ou não receberíamos nada. E não tínhamos mais poder de barganha, uma vez que a campanha já havia terminado. NOTA FISCAL: 'A gente não podia emitir nota fiscal (para a campanha). O Marcos Valério não permitiu que nós faturássemos. Claramente era dinheiro pago de caixa 2, a gente sabia disso. Estava na cara que não era oficial. A gente não tinha outra opção. Ou recebia assim ou não recebia.'

DÍVIDA: 'Não estou preocupado com a dívida do PT comigo, de R$ 14 milhões. O partido me deve e tenho esperança de receber. Mas sei que o PT está passando por uma situação delicada e não é porque está em uma hora ruim que vou abandoná-lo.'

PAGAMENTOS: 'Em 2002, todo o dinheiro era oficial (legal). Em 2003, a coisa mudou. Delúbio disse que quem estava pagando era o Marcos Valério, ele ditava as regras do jogo e a gente teve que seguir. Não vou dar uma de santinho: ou eu recebia daquele jeito, ou simplesmente tomava o cano.'

REGRA DO JOGO: 'Não me sinto um inocente útil. Eu realizei meu trabalho e encontrei uma forma de receber por ele. É a regra do jogo, eu aceitei. Foi um erro fiscal, mas não ético.'

CHANTAGEM: 'Não estou aqui para escamotear a verdade. Sabia do processo que detonaria com a minha fala. Mas comecei a ver que o Marcos Valério queria criar uma polêmica comigo que só interessa a ele. A gota d´água para eu vir aqui falar foi uma nota, em um jornal de Minas Gerais, em que falava de uma conta da Dusseldorf que poderia ser o mapa para esclarecer tudo isso. Me senti meio chantageado.'

ESTRATÉGIA: 'A estratégia dele (Marcos Valério) de se misturar comigo era boa pra ele, mas não era nada boa pra mim. Por isso, decidi comparecer aqui. Meu dinheiro é do bem.'

INTIMIDADE: 'Eu privava da intimidade durante a campanha eleitoral do presidente Lula. Marqueteiro e candidato têm intimidade. Depois da eleição, não era mais o Lula, era o presidente, eu não tinha intimidade.'

LULA: 'Não me arrependo de ter eleito o Lula. Também estou muito triste com o que está acontecendo. Mas acho que o presidente é um homem de bem e acho que vai provar isso. Tenho orgulho de ter eleito o presidente Lula. Em qualquer lugar existem os sérios e os não sérios.'

PROMESSA: 'Se ficar provado de alguma forma que esse presidente não é o presidente dos meus sonhos, nunca mais faço campanha política.'

COBRANÇA: 'Quase briguei com o Delúbio Soares, porque eu queria receber. E era balão para lá, balão para cá.'

FIGURINO: 'Eu pagava custos de figurino, paletó (de Lula na campanha). Outros gastos, não. Na posse, recebi R$ 100 mil de reembolso, pagos pelo PT.'

LULA SABIA?: 'Se eu falar que já me referi a dinheiro com o presidente Lula, estarei cometendo uma leviandade. Nunca falei em dinheiro com ele.'

EDUARDO AZEREDO: 'A sensação que temos é que o Azeredo pagou tudo de forma oficial. Não veio nada por fora. Não recordo de ter contato na época com o Marcos Valério. Acho que pelo tipo físico me lembraria dele. Agora, não estou dizendo que não houvesse nada por fora. Pode ter havido até porque não é uma coisa nova.'

CAMPANHAS MILIONÁRIAS: 'Se quiser baratear campanha, faz um debate por semana, cada um com um tema, entre todos os candidatos. O candidato usa um paletó. Se não tiver, pede emprestado ao amigo. Vai prevalecer o carisma, o equilíbrio, a capacidade de comunicar.'

LAPSO FISCAL: 'Construí uma vida profissional respeitável ao longo de 30 anos. Muito me orgulha a mim e a minha família não ter um prêmio na área de publicidade que eu não tenha conseguido ganhar nos últimos 20 anos. Posso ter cometido um lapso fiscal, mas não cometi um erro sério de honestidade, de caráter.'

HONESTIDADE: 'Meu dinheiro é limpo. Cada tostão que ganhei foi às custas do meu trabalho. Sei que ao dizer tudo isso corro riscos, mas eu prefiro assumir a minha parte de culpa e ir para casa brincar com os meus filhos com a consciência tranqüila.'

CORAÇÃO: 'A idéia de vir aqui é abrir o meu coração sem nenhum limite de reserva com as coisas que aconteceram. Só resolvi falar para não contaminar minha imagem. Antes de vir para cá, pensei bem na decisão que estava tomando. Não há meia verdade. Se algo foi errado, vou confessar.'

VEXAME: 'É melhor receber menos sem problemas (Pelo trabalho de campanha) do que mais com problemas e passar por esse vexame que estou passando.'