Título: O melhor remédio
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A6

Duda fez como Jefferson e aderiu à operação salve-se quem puder

Dois meses depois de Roberto Jefferson abrir a temporada, Duda Mendonça fez ontem o segundo movimento importante daquilo que se vai configurando como uma legítima operação salve-se quem puder. O gesto do publicitário, de assumir co-autoria nos crimes de evasão de divisas e sonegação fiscal e expor o fato de que a partir da posse de Luiz Inácio da Silva na Presidência da República o PT começou a fazer pagamentos por meios ilegais, seguiu a mesma lógica do petebista: ao sentir que estava sendo posto no caminho do cadafalso, deu um basta e resolveu salvar seus negócios e sua reputação.

O ex-presidente do PTB rompeu relações quando identificou manobra destinada, segundo ele, a atribuir a seu partido certas contas de corrupção. Recentemente, disse que atirou no que viu e acertou no que não viu.

Algo semelhante parece ter ocorrido com Duda Mendonça ontem. Diferentemente de Jefferson, seu alvo não era José Dirceu; era Marcos Valério, autor - segundo ele - de manobra destinada a arrastá-lo à lama e "numa escalada perigosa" acusá-lo de remessa ilegal de dinheiro para o exterior quando, de acordo com Duda, foi Valério quem impôs o depósito em paraíso fiscal como forma de pagamento por contratos firmados em 2002.

Mal acabara de dar essas informações à CPI, ainda saboreava os elogios (bem merecidos, até) da banca examinadora, foi confrontado pela reação dos parlamentares com o tiro naquilo que não vira: o coração do governo.

Duda desmontou a versão do crime eleitoral sob a qual estavam se escorando PT, Delúbio, Valério, Dirceu, parlamentares e beneficiários de saques valerianos em geral.

Mostrou que Marcos Valério funcionava como um tesoureiro laranja do PT, cujas finanças a partir de 2003 passaram a dispensar formalidades legais. Isso o partido ocupante da Presidência da República.

Duda tentou - e tentaria mais vezes ao longo do depoimento - consertar de certo modo as coisas, mas não conseguiu, pois suas informações, cotejadas com os resultados já produzidos pelas investigações, produziram, desta vez sim, pólvora pura.

Tão explosiva que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, associou-se de imediato à operação cada um por si, entrou na sala da CPI dos Correios, disse que não tinha nada com isso, registrou que "o candidato" deve se responsabilizar pelas contas de campanha e foi-se embora.