Título: Depoimento indica que empréstimos eram fictícios
Autor: Fernando Dantas,Suely Caldas
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A6

Avaliação de ex-dirigentes do BC é que pagamento a Duda pode estar ligado a doações prévias depositadas por empresas em contas no exterior de bancos do esquema

RIO - O pagamento feito a Duda Mendonça no exterior reforça os indícios de que empréstimos feitos pelos bancos Rural e BMG ao PT e ao publicitário Marcos Valério podem ser fictícios. Essa tese, negada pelo Banco Rural, foi sustentada por ex-diretores do Banco Central (BC) com experiência em detectar operações desse tipo. Na visão deles, os empréstimos podem estar ligados a doações prévias depositadas por empresas em contas no exterior dos bancos supostamente envolvidos com o esquema. Os empréstimos feitos a Marcos Valério e ao PT seriam respaldados por essas doações. Portanto, não eram para ser pagos - o que explicaria a decisão do Banco Rural de continuar concedendo créditos a Valério, mesmo depois do calote no empréstimo feito em 1998 para financiar a campanha do ex-governador Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.

"Acreditar que aquilo era empréstimo é o mesmo que acreditar em história da Carochinha", disse um ex-diretor do BC. Para ele, não faz sentido um banco emprestar milhões de reais tendo como avalista Marcos Valério, um publicitário, e políticos com baixo patrimônio. "Nunca vi um banco dar empréstimo deste jeito", comentou o ex-diretor do BC.

Nesse tipo de operação, os empréstimos seriam feitos com a intenção de não ser quitados, já que foram pré-pagos no exterior, e se transformariam em créditos podres. Os problemas de inadimplência que surgiram tanto nos empréstimos para o PSDB, em 1998, quanto para o PT, a partir de 2003, seriam indicação disso.

A assessoria do Banco Rural, porém, insiste que o empréstimo para o PSDB foi quase inteiramente pago. O acordo judicial para pagamento de cerca de R$ 2 milhões, segundo a instituição, foi um complemento a amortizações feitas anteriormente em relação ao crédito inicial de R$ 9 milhões. Desta forma, a tese do pré-pagamento não faria nenhum sentido.

Um dos motivos de estranhamento em relação aos empréstimos do Rural, por parte de profissionais da área financeira é que, apesar dos problemas enfrentados com o PSDB, que acabou num acordo judicial, o Banco Rural voltou à mesma fórmula nos créditos ao PT.