Título: Ideli diz que sua assinatura em ata do PT foi falsificada
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A8

Senadora garante que não assinou prestação de contas relativa a 2003, que tinha quitação de empréstimo de Lula

BRASÍLIA - A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) requereu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investigue em caráter de urgência suposta fraude na ata de prestação de contas do PT relativa ao exercício de 2003. O documento, que registra inclusive o pagamento da primeira de quatro parcelas relativas ao empréstimo de R$ 29.436,26 que o presidente Lula fez junto ao partido, foi aprovado em 22 de março de 2004 pela Comissão Executiva Nacional do PT. Ideli fazia parte do colegiado, na condição de líder do partido no Senado, mas garante que não participou daquela reunião e, portanto, não assinou a ata encaminhada ao TSE. No entanto, ao lado de seu nome na lista de dirigentes do PT - entre os quais Delúbio Soares, então tesoureiro do diretório nacional - que aprovaram sem ressalvas o balanço financeiro e o patrimonial da agremiação, aparece um rabisco, como se fosse a assinatura da senadora. "Uma rasura que não é da minha lavra", protesta Ideli.

LISTA DE PRESENÇA

"Tenho certeza absoluta que eu estava aqui no Senado administrando a crise Waldomiro", afirma Ideli, referindo-se a Waldomiro Diniz - o assessor do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu - , acusado de cobrar propinas de um empresário de jogos. "Se eu tivesse ido à reunião poderia ter assinado, mas o que me deixou muito indignada é que não assinei a ata."

Ideli não desconfia de quem fez a rasura. "Como os processos são retirados para consulta no TSE não é impossível alguém ter rabiscado o documento", ponderou a senadora. "Pedi a apuração sobre a verdadeira origem disso em razão da convicção de minha ausência àquela reunião, observada sobretudo na cópia da lista de presença, o que torna impossível minha ratificação e conseqüente assinatura no parecer."

O documento que Ideli não endossou mostra que o partido recebeu R$ 12 mil do presidente Lula em 30 de dezembro de 2003, via "depósito online", operação escriturada com número 119100. O valor é referente ao empréstimo que Lula fez em 2001, sob a rubrica de adiantamento, para viagens internacionais - China, França (duas vezes), Portugal e Itália. Na época, Lula era presidente de honra do partido. Sua mulher, Maria Letícia, o acompanhou. Lula completou o pagamento em 2004.

SEBRAE

O dinheiro saiu do fundo partidário do PT, o que é proibido por lei. Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, assumiu ter quitado o débito de Lula. Pagou com dinheiro do bolso parte da dívida.

"É antiético, é ilegal", avalia o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). "Ele ganhou um emprego do Lula e pagou as dívidas do presidente. A receita do Okamotto é aquela que lhe dá o Sebrae a título de salário."