Título: Duda exigiu pagamento em paraíso fiscal, acusa Valério
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A9

Empresário se coloca à disposição da CPI para acareação com o marqueteiro de Lula

Enquanto na CPI dos Correios, em Brasília, o publicitário Duda Mendonça afirmava que recebeu parte de seu pagamento no exterior porque o PT recomendou que que fosse assim, em Belo Horizonte o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza rebatia a afirmação, dizendo que Duda 'exigiu' que os recursos fossem depositados em contas que ele já teria exterior. Valério ressaltou que está a disposição da CPI para participar, a qualquer momento, de uma acareação com o marqueteiro oficial da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. O empresário informou que valores em dinheiro também foram entregues ao consultor financeiro Jader, seguindo instruções de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes.

Na CPI do Mensalão, onde prestou um depoimento não previsto ontem, Valério voltou a rebater Duda, confirmando que, por ordem do ex-tesoureiro Delúbio Soares, pagou R$ 15,5 milhões ao publicitário. Ele descartou a idéia de que teriam manipulado o publicitário baiano, lembrando que, com 61 anos e muitas campanhas feitas, Duda tem muito mais experiência do que ele em negócios.

Os advogados de Valério apontaram o doleiro mineiro Jader Kalid Antônio, que se apresenta como 'consultor financeiro', como o intermediário de Duda nos saques efetuados pelos policiais Luís Costa Lara, David Rodrigues Alves e o churrasqueiro Francisco de Assis Novaes nas contas da SMPB no Banco Rural. Os três sacaram, no total, R$ 6,75 milhões.

Kalid afirmou ontem ao Estado que não conhece Duda e não fez operações para ele. Kalid também negou conhecer os três sacadores, mas depois admitiu que Lara e Novaes já trabalharam para ele.

CONTRADIÇÕES

Acompanhado por seu advogado, Valério foi ontem ao Congresso para entregar documentos e um CD-Rom com a contabilidade de suas empresas. Como na sala ao lado Duda prestava um explosivo depoimento na CPI dos Correios, o mineiro acabou sendo ouvido mais uma vez, para explicar contradições entre sua versão e a de Duda.

No novo depoimento, Valério convalidou o fax enviado pela SMPB e que Duda apresentou à CPI dos Correios. Segundo ele, os fax serviam como comprovação, para Duda e para Delúbio, de que o dinheiro tinha sido enviado. 'Existia uma contabilidade que era checada por Delúbio e por Zilmar Silveira, sócia de Duda', afirmou.

Valério disse que entregou dinheiro e 22 cheques a Duda, recursos retirados dos empréstimos tomados por suas empresas para o PT. Ele ressaltou que todos os repasses que fez estão sendo comprovados. 'Fui usado e cuspido para fora', queixou-se. 'É muito mais fácil acusar um empresário do que o publicitário Duda Mendonça. Por isso, me culpam de tudo. É mais fácil falar 'valerioduto' do que 'dirceuduto' ou 'ptduto''.

No depoimento improvisado na CPI do Mensalão, Valério confirmou também que na madrugada de quarta-feira deu carona ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS), até então vice-presidente da CPI do Mensalão, e que renunciou hoje ao cargo depois de reconhecer que o contato foi impróprio. Mas negou que, na continuidade da conversa com Pimenta, tenha ido para a casa do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil. O empresário não precisou o local em que teria deixado Pimenta na madrugada de ontem. Eduardo Kattah, Denise Madueño e Expedito Filho