Título: Ameaça de cassação de registro assusta cúpula
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A12

O depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios caiu como uma bomba na sede do PT em São Paulo, onde parte da Executiva petista se reunia e discutia com movimentos sociais um ato contra a corrupção. Ao tomarem conhecimento das declarações de Duda - que admitiu que Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, pagou parte das despesas da campanha do PT em 2002 -, os integrantes do primeiro escalão petistas ficaram apavorados com a hipótese de cassação de registro da sigla. "Haverá um questionamento jurídico forte sobre a legalidade do partido", admitiu um parlamentar petista. O temor ecoou em Brasília. Sub-relator de Sistematização dos Trabalhos da CPI dos Correios, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), afirmou ontem que a confissão de Duda sobre pagamentos recebidos no exterior abre caminho para processo de extinção do Partido dos Trabalhadores.

Sampaio destacou que o artigo 28 da Lei 9.096/95, que disciplina os partidos políticos, veda expressamente que agremiações políticas brasileiras mantenham recursos fora do País. "A confissão de Duda deixa tudo muito claro: esse dinheiro entrou para o PT lá fora e foi usado para pagar o publicitário lá fora."

Para o deputado, a operação que Duda descreveu na CPI dos Correios caracteriza existência de um caixa 2 estrangeiro do PT. "O PT já admitiu caixa 2 nacional, que recebeu dinheiro por fora de empresas ou pessoas físicas, mas dentro do Brasil. Agora, quando paga com dinheiro estrangeiro alguém que contratou para fazer sua campanha eleitoral, o PT confessa o caixa 2 no exterior. O depósito na conta de Duda no exterior foi feito sob orientação do Delúbio (ex-tesoureiro do PT) Soares para pagar uma conta do partido." Até ontem, o PT só dava como certa a possibilidade de perder parte do fundo partidário.

TARSO

O depoimento de Duda Mendonça também voltou a pôr em dúvida a candidatura de Tarso Genro à presidência do PT. As eleições internas estão marcadas para 18 de setembro. Ontem, a possibilidade de Tarso desistir do pleito voltou a ser analisada. "A candidatura do Tarso subiu no telhado", comentou um integrante da Executiva.

Duas possibilidades estão sendo levadas em conta em relação ao futuro do Campo Majoritário, ala dominante do partido. Se Tarso desistir da luta, a opção seria apresentar o secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci, como candidato da corrente ao comando do PT.

Outra hipótese é que o ex-ministro José Dirceu perca voz no partido e, com isso, Tarso ganhe apoio, o que o faria permanecer candidato.