Título: Advogado diz que Pimenta quis blindar José Dirceu
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A13

Belo Horizonte - O advogado Paulo Sérgio de Abreu e Silva, que representa Marcos Valério Fernandes de Souza, afirmou ontem que o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) tentou "blindar" o ex-ministro José Dirceu quando pegou uma carona com o empresário mineiro, após o depoimento na CPI do Mensalão, na madrugada de quarta-feira. Segundo o advogado, no trajeto entre a garagem do Senado e a residência do deputado, em uma superquadra na capital federal, o deputado, "num papo amistoso" com Valério, disse estar muito "preocupado" com o destino do ex-ministro. "Mas o ministro sabia, eu falei a verdade", teria retrucado o sócio da SMPB, segundo relato do advogado Abreu e Silva. "O Marcos Valério sustentou que o Zé Dirceu sabia da participação do PT na negociata toda", enfatizou.

Apontado inicialmente por Pimenta como a pessoa que teria lhe repassado a lista apócrifa com nomes de políticos mineiros - que teriam sido beneficiados por repasses de Marcos Valério -, o advogado afirmou que está à disposição para depor num eventual processo contra o deputado no Conselho de Ética da Câmara. "Se me convocarem, estarei lá para depor", afirmou.

Mais tarde, diante da forte reação reação negativa entre os parlamentares da CPI, Pimenta mudou a versão inicial. Disse que conseguiu a lista na própria CPI e que o documento faria parte dos autos de uma ação que estaria em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).

O vazamento da lista provocou anteontem uma guerra entre PT e PSDB durante a sessão conjunta das CPIs e causou a renúncia de Pimenta do cargo de vice-presidente da CPI do Mensalão.

'MOLECAGEM'

Na opinião de Abreu e Silva, o que parlamentar gaúcho fez foi "uma molecagem". Ele contou ontem que estava estava disposto a desmentir a versão inicial de Pimenta sobre a origem da lista apócrifa durante a sessão conjunta das comissões, mas foi impedido. Teria sido impedido pelo presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RR). "Ele achou que se eu falasse pegava mais fogo ainda", disse. "Nessa briga de cachorro grande, PSDB contra PT, eu não vou entrar."

O advogado reafirmou a versão de Valério de que não possui provas contra outros políticos que supostamente teriam recebido recursos de suas empresas, além dos já divulgados. "Aquilo foi uma lista montada", disse. "Nós não temos documentos com esses outros nomes."

Ao comentar a renúncia do deputado gaúcho ao cargo de vice-presidente da CPI, o advogado disse: "Acho que ele fez bem, porque a situação dele ia ficar insustentável ali dentro."