Título: Para presidente, novo mínimo foi 'vingança'
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Nacional, p. A15

Lula reagiu indignado à decisão de fixar salário em R$ 384

BRASÍLIA - O presidente Lula reagiu com indignação à decisão do Senado de elevar o salário mínimo para R$ 384,29. Segundo sindicalistas que participaram da instalação da Comissão Quadripartite, que estudará uma política permanente para o piso salarial do País, Lula teria acusado os senadores de manobra eleitoreira. "O que eles querem é apenas o veto. É me colocar em xeque-mate. Parece uma vingança", teria desabafado. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, confirmou as declarações com outras palavras. Segundo ele, Lula foi cauteloso e teria dito que não podia aceitar os R$ 384 porque seria irresponsabilidade fiscal. "Não existe espaço no orçamento. Não há possibilidade de tirar da saúde, da educação", frisou o ministro. Lula, disse, atribuiu a decisão do Senado ao momento político e à eleição. "Foi uma medida eminentemente política para constranger o presidente."

O problema é que, se Lula vetar, o salário voltará aos R$ 260 que vigoraram até abril, sem nem o aumento para R$ 300 previsto na medida provisória alterada pelo Senado. O ministro disse que a estratégia do governo para manter os R$ 300 vai ser negociar com a Câmara. "Parece coerente a Câmara restabelecer os R$ 300, pois foi o resultado da votação lá." Caso isso não ocorra, a saída, segundo ele, vai ser o governo enviar nova proposta, via medida provisória ou projeto de lei. "Não podemos mandar uma MP com os mesmos R$ 300, mas poderá ser R$ 301 ou R$ 299."

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Lula deve vetar o aumento para R$ 384,29, se não for possível revertê-lo na Câmara. Os senadores também alteraram a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2006, de forma que salário mínimo irá a R$ 561,40 no ano que vem. No total, a conta ficará em R$ 52 bilhões. "É insustentável", queixou-se Bernardo.

Para ele, o aumento foi "irresponsabilidade" do Senado, que impôs uma "conta estratosférica" ao governo e um valor no qual nem os trabalhadores acreditam. "Se tivessem aprovado R$ 310 ou R$ 320, poderia ter um impacto grande, mas as pessoas achariam factível", disse. "Mas R$ 384, falando politicamente, acho até falta de respeito." Bernardo acredita que a Câmara reverterá a decisão, por causa do peso fiscal. "Se a Câmara não reverter, não tenho dúvida de o presidente vai vetar", disse, ressalvado que ainda não havia conversado com Lula. "Mas não é o que queremos."

Para ele, a decisão pode ser revertida porque prefeituras e alguns Estados, administrados por partidos do governo e da oposição, também sofrerão com o aumento. O ministro disse que a votação refletiu o clima de disputa política e ignorou a responsabilidade fiscal. "Quando se trata de orçamento, é preciso fazer as contas", observou.

Ao contrário de Bernardo, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, acha que o governo terá dificuldades para derrubar o aumento na Câmara. Na reunião com a bancada do PT, o ministro ouviu que os deputados não estão disposta a assumir o ônus de ser contra os R$ 384, se o governo não conseguir apoio nos partidos aliados. Mas, segundo integrantes da bancada, Wagner já foi avisado por esses partidos que o Planalto não deve contar com eles nessa votação.