Título: Dólar tem maior alta em 13 meses
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Investidores ficaram estressados com depoimento bombástico de Duda Mendonça e leilão de compra realizado pelo Banco Central

Depois de duas semanas de bonança, o mercado financeiro voltou a se estressar com a crise política. O dólar subiu 2,94% e encerrou o dia cotado em R$ 2,346 - foi a maior alta em treze meses, a moeda americana não subia tanto desde 31 de maio de 2004. A Bovespa teve queda de 1,78% e o risco país subiu 3,47%, chegando a 388 pontos. Os investidores receberam com muita preocupação o depoimento bombástico do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios. Duda afirmou que recebeu recursos de caixa 2 do empresário Marcos Valério em conta no exterior, para quitar dívidas de campanha eleitoral de candidatos do PT em 2002. A menção explícita de caixa 2 e remessa de recursos para contas o exterior, em paraíso fiscal, assustou o mercado. "A situação é grave, a crise está cada vez mais perto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios.

Para completar, a oposição passou a falar em impeachment sem maiores pudores. Os senadores do PSDB Álvaro Dias (PR) e Tasso Jereissati (CE) cogitaram pela primeira vez a possibilidade de impeachment de Lula. Dias afirmou que "a alternativa de impeachment tem de ser discutida".

Segundo Lopes, "ontem houve uma combinação infeliz de ruído político acima do normal, leilão de compra de dólares do Banco Central e cenário externo avesso a risco, por causa da alta do petróleo." Ele diz que os investidores vinham muito otimistas, apostando em queda de dólar, alta da Bolsa e queda do risco Brasil. "Ontem, eles começaram a vender uma parte de seu kit Brasil."

Segundo Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, o mercado já tinha começado o dia de mau humor por causa da aprovação do salário mínimo de R$ 384,29 no Senado, na quarta-feira. Para ela, a derrota do governo no Senado, que aprovou um salário mínimo superior ao estipulado, aponta para rachaduras na blindagem da economia. "O Executivo vai vetar esse aumento do salário mínimo, mas, se a crise perdurar, será que não haverá mais situações que terão impacto fiscal?", pergunta. "Vemos que certos eventos políticos, que enfraquecem o governo, têm sim impacto na política econômica."

Depois, veio o anúncio inesperado do leilão de compra de dólares pelo BC. O anúncio do leilão causou surpresa, uma vez que o Tesouro vem dando sinais confusos sobre eventual atuação no câmbio e também anunciou semana passada que não compraria dólar enquanto durasse a volatilidade. No leilão, o BC rejeitou todas as propostas feitas e não comprou moeda americana.

Mas a sinalização de que está de volta ao mercado, por si só, sustentou potencial de alta para o dólar. "Só o anúncio foi suficiente para fazer o dólar subir, foi encarado como uma sinalização de que o BC estabeleceu um piso para o dólar, um patamar mínimo", diz Jason Vieira, economista da GRC Visão.

Lá fora, a situação também não ajudou. O petróleo chegou a ser negociado por US$ 66 o barril, quebrando várias barreiras psicológicas. A commodity encerrou o dia em cotação recorde de US$ 65,80. Esse conjunto de más notícias levou alguns analistas a deixaram de apostar em um corte nos juros na reunião do Comitê de Política Monetária, na próxima semana.