Título: Endividado, agricultor adia a compra de insumos para safra
Autor: Renato Stancato, João Baumer
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. B18

Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, prevê queda de 2% a 3% na área plantada de grãos

A semanas do início do plantio da safra de verão, a maioria dos analistas acredita na redução da área plantada de grãos no período 2005/2006. Endividados, os agricultores vêm adiando até a última hora a compra de insumos. Como resultado, ainda é difícil prever o que será plantado e com que nível de investimento tecnológico. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, estima que a área plantada com grãos deverá cair de 2% a 3%. Ele se apóia na lentidão das vendas de fertilizantes, que caíram 30% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2004. "Ainda que a demanda venha a ser igual à da safra passada, por problemas de logística não será possível abastecer o mercado", disse.

Os números do Porto de Santos mostram que a importação de fertilizantes realmente recuou. De janeiro a junho, Santos recebeu 1.101.356 toneladas de adubo, uma queda de 24,12% ante o primeiro semestre do ano passado. Contudo, o resultado de junho pode significar alguma recuperação: o porto paulista internalizou 222.366 toneladas, 13,55% acima do importado em junho de 2004.

Para Glauco Carvalho, analista da MB Associados, a lentidão da venda dos insumos é fruto das dificuldades enfrentadas pelos agricultores. E a MB Associados acredita que os preços internacionais da soja e milho não terão alta expressiva. Além disso, a consultoria projeta o valor médio do dólar em R$ 2,61 em 2006. Não é um valor que estimule as exportações. Por conta disso, Carvalho afirma que a área plantada com grãos, que foi de 40,021 milhões de hectares na safra de verão 2004/2005, deve cair entre 0,5% e 1%. A área de soja, principal item da pauta agrícola, deve cair 4,3%, para 22,1 milhões de hectares. Já o milho, por causa da forte quebra de safra deste ano, deve ter aumento de área de 3% para 12,2 milhões de hectares.

O analista André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, acredita que a área da safra de verão de grãos vai cair 5,6%, para 37,969 milhões de hectares. O plantio deve ter queda de 9,1% para 21,11 milhões de hectares.

Segundo Pessôa, o principal motivo da redução será a restrição de crédito. "Como os produtores estão endividados e a próxima safra indica uma rentabilidade muito apertada, os emprestadores de dinheiro vão limitar os recursos. Mesmo que o produtor queira manter a área, terá dificuldade em custear a compra dos insumos". Ele observa que os juros reais estão muito altos, "e com uma taxa de 15% ao ano, a agricultura fica inviável".

Para Glauco Carvalho, a queda da área significa que a expansão da fronteira agrícola, como vinha ocorrendo nos últimos anos, será detida. "Além disso, deverá haver redução dos arrendamentos de terra e uma reorganização do setor: os empresários que entraram na atividade no momento do 'boom', deverão sair do setor".

Nem todos os analistas privados acreditam num cenário de redução de área. Para a consultoria Céleres, de Uberlândia, o plantio de soja deverá crescer 1,1%, para 23,4 milhões de hectares. Já o milho de primeira safra deverá ter aumento de 3,2% em área, atingindo 9,299 milhões de hectares.

Para a Céleres, as projeções de preço e rentabilidade para 2005/2006 justificam a previsão de aumento de área. Os consultores acreditam que a menor produção nos Estados Unidos e o aumento da demanda tendem a manter os preços futuros da soja acima de US$ 7 o bushel no ano que vem. No caso do milho, a quebra da safra atual está estimulando o agricultor a plantar mais. A relação de preços entre soja e milho favorece este último.

Outro fator positivo apontado pela Céleres é o crescimento da demanda animal pelo milho, puxado pelo dinamismo da avicultura e suinocultura. O consumo animal deve atingir 31,86 milhões de toneladas em 2006, ante 30,638 milhões de toneladas previstas para este ano.