Título: Mercado descarta corte da Selic
Autor: Silvana Rocha e Mario Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. B13

Depoimento de Duda Mendonça reverteu a tendência da curva de juros; alta do petróleo também prejudicou

O depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios fez reverter o quadro positivo dos últimos dias no setor financeiro. Além da alta do dólar e da forte queda do Ibovespa (ver página B1), o mercado de juros abandonou a idéia de um corte da Selic este mês. O contrato de janeiro de 2007 projetou taxa de 17,85% ao ano. O nervosismo aumentou quando o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que "agora, não se pode deixar de discutir o impeachment". No mercado de juros, as taxas subiram com força, aproximando-se dos 18% no encerramento dos negócios, ante 17,58% na véspera. Segundo operadores, a hipótese de corte da Selic, que começava a ganhar força, foi eliminada da curva de juros futuros. "Eu era otimista, mas agora não sou mais. Tudo o que aconteceu (na CPI) foi muito ruim e o mercado deve passar por um novo período de stress", comentou um deles. Outro afirmou que os mercados vinham melhorando porque os fundamentos econômicos são bons "e a aposta era de que a CPI não daria em nada. Mas agora, o quadro mudou".

Também influenciou a derrota sofrida quarta-feira pelo governo no Senado, com o aumento do salário mínimo, para R$ 384, visto como uma medida irresponsável pelo lado das contas públicas - o número oficial era R$ 300 . "Foi uma bomba. A situação do governo, que já não era grande coisa, está ainda mais delicada", disse um operador.

Para completar, o petróleo futuro negociado em Nova York chegou a US$ 66 o barril, no começo da tarde, um novo recorde, impulsionado pelas notícias relacionadas a problemas em refinarias e preocupações com a oferta. No fechamento, o petróleo para setembro subia 1,39%, em novo recorde de US$ 65,80 o barril.

Ante esse quadro, o Ibovespa acabou caindo. Mas, curiosamente, os estrangeiros continuaram a compras ações de empresas brasileiras. Alguns operadores estão prevendo forte volatilidade nos próximos dias por causa da crise política e dos vencimentos de opções, na segunda-feira, e de Ibovespa futuro, na quarta-feira.

As ações da Vale do Rio Doce e da Petrobrás dominaram a cena. No caso da Vale, por causa do balanço divulgado na véspera, e no caso da Petrobrás, por causa da expectativa em relação ao seu balanço, que sai hoje, e da alta do petróleo, que tende a favorecer a companhia.