Título: Mercado tenso sustenta petróleo
Autor: João Caminoto, Luciana Xavier
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

Problemas em refinarias e preocupações com a oferta levam barril a novo recorde: US$ 65,80

NOVA YORK - A disparada do petróleo parece não ter fim. Ontem, os preços chegaram a novos recordes, atingindo a marca de US$ 66 o barril em Nova York, impulsionados pelas notícias relacionadas a problemas em refinarias e preocupações com a oferta. Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), os contratos de petróleo para setembro fecharam em US$ 65,80 o barril, alta de 1,39%. Em Londres, na Bolsa Internacional de Petróleo (IPE), os contratos de petróleo Brent para setembro fecharam em US$ 65,38 o barril, avanço de 2,17%. Segundo o analista Gary Caruso, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, a reação exagerada do mercado aos problemas nas refinarias mostra sua sensibilidade a eventos inesperados na oferta. "Quando se opera tão perto da capacidade total, qualquer interrupção, seja real ou potencial, contribui para a alta dos preços." Ele acrescentou que os preço estão sendo empurrados para cima por "fundamentos muito apertados", incluindo a forte demanda, e que não há solução imediata.

Esses comentários sugerem que o governo americano vê os preços elevados do último ano como um problema de longo prazo, sem uma solução imediata.

O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, disse que a única forma de o petróleo cair é com uma pequena recessão mundial. Caso contrário, ele acredita que o barril pode chegar a US$ 100 "tranqüilamente", impulsionado por questões geopolíticas, oferta apertada e especulações na Bolsa.

Pires refutou a percepção de alguns analistas de que não há crise de oferta. "Há problema de falta de petróleo, possivelmente isso poderá ser resolvido daqui a 2, 3 ou 4 anos com a retomada dos investimentos".

Pires lembrou, no entanto, que se houver uma desaceleração econômica na China, a pressão pode diminuir e é possível uma pequena queda nos preços ainda neste semestre.

RELATÓRIO

A Agência Internacional de Energia (AIE), alertou que o impacto da alta dos preços do petróleo neste ano ainda não foi repassado para a economia mundial, que ainda assimila a alta do custo do produto ocorrida em 2004.

Em seu relatório mensal divulgado ontem, a AIE afirma que as preocupações com o limite de capacidade de produção do petróleo vão continuar sendo um fator de pressão sobre os preços.

A AIE demonstrou preocupação com as crescentes dificuldades para se projetar o crescimento do consumo do petróleo com base no comportamento das principais economias do mundo, principalmente nos dois maiores consumidores da commodity, Estado s Unidos e China. "Se o mercado de petróleo pudesse ser explicado por um conjunto simples de relações econômicas rígidas, haveria pouca necessidade de analistas e corretores", afirmou o relatório.

A AIE informou também que o consumo de petróleo do Brasil cresceu 5% em maio, após dois meses de relativa estagnação. A demanda por gasolina cresceu 7,7%.

Segundo a agência, uma recuperação no consumo e m maio foi mais intensa do que o previsto. Por isso, a previsão de consumo de petróleo no Brasil foi elevada em 50 mil barris diários no segundo trimestre.

A AIE prevê que a produção petrolífera do Brasil crescerá em 200 mil barris diários em 2005 e em 230 mil barris em 2006, resultando numa produção media de 1,7 milhão de barris e 1,9 milhão de barris, respectivamente.