Título: Para analistas, decisão é neutra
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Veredicto é 'mais psicológico do que prático', alegam

RIO - A decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no processo da Vale do Rio Doce foi considerada "neutra" para a companhia e "mais psicológica do que prática", segundo de analistas de mercado. Já para o ex-secretário de Acompanhamento Econômico Cláudio Considera, a decisão foi espetacular para a Vale e "quase pífia" do ponto de vista de concorrência de mercado. Ele diz que, quando ainda estava à frente da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), foi defendida recomendação de venda de 7 das 18 minas recebidas com a compra das mineradoras pela Vale. Isso, segundo ele, reduziria o poder de mercado e evitaria o risco de aumento de preços. "Neste sentido, a decisão do Cade foi muito simplória."

O parecer final do Seae recomendou à Vale tornar transparente a política de preços ou alienar algumas minas. A Vale informou que foram adotadas "medidas comportamentais", relativas à transparência de preços.

Ex-integrante do Cade, a economista Lucia Helena Salgado julgou equilibrada a decisão, que interferiu pouco na atividade empresarial, diferente do caso Nestlé, em que o órgão determinou a venda da Chocolates Garoto. "Naquele caso, não tinha jeito. Há operações que tem efeito muito claro de domínio de mercado e não havia alternativas, era uma planta industrial, uma marca apenas (a Garoto)." Ela foi relatora em 1996, do processo de compra da Kolynos pela Colgate.

Lucia avalia que o Cade conseguiu "interferir o mínimo na liberdade da empresa, procurando preservar a concorrência". A decisão de aprovar as aquisições da Vale, disse, levou em conta que o mercado predominante de mineração é o internacional e que a empresa dirige sua operação "olhando para o mercado externo".

Ela considerou positivo oferecer alternativas, como já havia ocorrido, no caso Colgate/Kolynos. Segundo Helna, o Cade teve o objetivo de minimizar o uso de poder no mercado interno, "sem criar obstáculos ao crescimento".

Para ela, a melhor decisão seria o voto vencido que mantinha o direito de preferência do minério de Casa de Pedra para as exportações, pois a concorrência externa é com grandes empresas.

A analista de mineração do Banif Primus, Catarina Pedrosa, diz que a decisão teve efeito só psicológico. "A empresa está se preparando para competir no exterior e, ao mesmo tempo, está sendo podada dentro do próprio País." Mas ela não prevê conseqüências práticas nos negócios da Vale.

O analista do UBS, Edmo Chagas avalia que a decisão foi neutra para a Vale, porque ela praticamente não exercia o direito de preferência sobre Casa de Pedra.