Título: Exportação garante recuperação da indústria em junho
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

O bom desempenho das exportações garantiu a recuperação da atividade industrial em junho, segundo divulgou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Após a queda dos principais indicadores relacionados à produção em maio, os dados foram positivos e fecharam o primeiro semestre do ano com uma expressiva melhora na comparação com o mesmo período de 2004. "O maior enigma da economia é esse aumento das exportações com a taxa de câmbio atual", disse o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. Ele afirmou que a crise política não está afetando o cotidiano das empresas, mas pode criar um ambiente de desconfiança em relação ao futuro. "Se as expectativas em relação às condições correntes da economia se deteriorarem, pode ocorrer uma retração dos investimentos", disse. Ele ressaltou que o dia-a-dia da economia seria mesmo afetado se a crise política produzisse conseqüências como fuga de capitais ou aumento da taxa básica de juros, a Selic. Mas, segundo o economista, o ambiente atual não sugere que isso vá ocorrer.

A CNI espera que a utilização do parque produtivo aumente nos próximos meses, quando o ritmo de atividade é mais forte em razão das vendas de fim de ano. O indicador atingiu 82,6% em junho, 0,7 ponto porcentual a mais que em maio, e fechou o primeiro semestre com uma média recorde para o período. "Mesmo com o uso mais intenso do parque produtivo no segundo semestre, não há risco de pressões nos preços ou gargalos."

As vendas reais na indústria voltaram a crescer em junho, mas de forma moderada. Embora o segundo trimestre de 2005 tenha mostrado uma expansão nas vendas de 1,5% em relação ao primeiro trimestre, o crescimento é ainda bem menor que no primeiro e segundo trimestres de 2004, quando a expansão foi acima de 4%. "O registro de taxas moderadas de crescimento das vendas e das horas trabalhadas na produção sugere que a indústria está se adaptando a um novo ritmo de expansão", afirmou o coordenador da CNI. Esse novo ritmo, mais lento, teria sido determinado pela elevação das taxas de juros a partir de setembro de 2004.

Castelo Branco também afirmou que há "um arrefecimento nítido" nas contratações nos últimos dois meses. O crescimento no número de empregos no acumulado do primeiro semestre, entretanto, foi de 6,36% comparado com o mesmo período de 2004. Os indicadores industriais mostram uma recuperação da massa salarial que é explicada, em grande parte, pela queda da inflação. "A expectativa é de um crescimento moderado da indústria no segundo semestre. O ritmo da demanda doméstica deve se manter e a taxa de juros, que foi um fator limitativo no primeiro semestre, deve iniciar sua trajetória de queda já em agosto e, com isso, dá uma sinalização positiva para a retomada dos investimentos num ritmo mais forte."

Castelo Branco prevê que a redução dos juros deve trazer "uma leve reversão" do processo de valorização do real ante o dólar. Segundo ele, embora o dólar esteja sofrendo um processo de desvalorização no mundo todo, no Brasil, os juros elevados atraem capital estrangeiro de curto prazo, ajudando a valorizar o real. "A cotação do dólar está extremamente baixa. Certamente não é a chamada taxa de equilíbrio." O economista, no entanto, acredita que as grandes empresas exportadoras continuarão no mercado e disse que os preços internacionais altos de alguns produtos compensam o câmbio baixo. A valorização do real, entretanto, traz sinalização negativa para as empresas que pretendiam entrar no mercado exportador.

Castelo Branco acredita que o efeito do câmbio nas importações foi mais forte em meados do primeiro semestre. "Acredito que as importações estavam crescendo fortemente, mas mais do que se esperava. As empresas podem ter antecipado importações no meio do primeiro semestre porque não apostavam que o câmbio fosse continuar baixo por tanto tempo."