Título: Nas montadoras, freio na produção e venda
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os três indicadores de atividade da indústria automobilística caíram em julho, na comparação com o mês anterior. Produção, vendas internas e exportações apresentaram recuo na casa dos 6%. Fabricantes e revendas iniciaram agosto com estoques de 165,1 mil veículos, equivalentes a 36 dias de vendas e sinalização de que as promoções vão continuar. A Ford, por exemplo, aderiu aos feirões de fábrica. No sábado e no domingo, abrirá as portas em São Bernardo do Campo (SP) para vendas diretas ao consumidor com ofertas especiais. GM, Fiat e Volks já usaram esse expediente várias vezes.

O cenário político não é apontado como fator de desaceleração dos negócios. "Já esperávamos certo arrefecimento no mercado em razão dos juros e do câmbio", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb. "Depois de longo período de juros altos, o efeito está se fazendo sentir." Ele aposta, porém, que as taxas começarão a cair.

Golfarb ressalta que, apesar dos números negativos, com a produção 6,3% menor do que em junho, os resultados ainda superam os do ano passado. Em relação a julho de 2004, aumentaram 7,8%. No acumulado do ano, foram fabricados 1,4 milhão de carros, 14,5% a mais que no mesmo período de 2004. Já as vendas caíram 6,6% no mês, mas foram 3,7% melhores em relação ao resultado de um ano atrás. No ano, somam 938,9 mil unidades, 9,6% acima de 2004.

Apesar de todas as críticas à desvalorização cambial, as exportações estão 37,4% maiores que no ano passado, e somam US$ 6,1 bilhões. Em julho, houve queda de 6,6% ante junho, embora comparado ao ano passado o aumento foi de 25,8%.

EMPREGOS

O número de trabalhadores nas montadoras aumentou para 107,6 mil no mês passado, com 2.609 contratações. Não se trata de criação de novos postos, mas do retorno à folha de pagamento das montadoras GM e Fiat de funcionários transferidos para a joint venture de motores e vendas criada pelas duas companhias. Desfeito o acordo, eles voltaram aos quadros das montadoras. Na GM são 2 mil pessoas e na Fiat 180.

Em relação a 2004, o setor contratou 8,3 mil trabalhadores. Do total de empregados, 94,3 mil pessoas estão nas fábricas de veículos e 13,3 mil nas de máquinas agrícolas. O segmento acumula, no ano, queda de 36,3% nas vendas, para 14.326 unidades. Em julho foram vendidos 2.015 tratores, 8,5% a menos que em junho e 45,3% a menos que em igual mês de 2004. Para a Anfavea, não há mais como recuperar mercado, que deve amargar, no ano, queda superior a 10% ante as 69,4 mil unidades produzidas no ano passado.

Já a produção de veículos deve encerrar 2005 próxima a 2,3 milhões de unidades, 5% a mais que no ano anterior. Desse total, 1,64 milhão deve ficar no mercado interno (4% a mais que em 2004). A projeção, feita no início do ano, pode mudar, pois há expectativa de as exportações superarem os US$ 8,9 bilhões até agora previstos. "A projeção está ultrapassada, mas vamos aguardar para refazer as contas", diz Golfarb.