Título: Idosos não sentem no bolso o alívio da queda dos índices
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Economia & Negócios, p. B5

O bom comportamento da inflação constatado pelos principais índices de preços provoca espanto em muitos brasileiros que não sentem no bolso o alívio da inflação. Esse é o caso do aposentado Werner Cohn, de 85 anos, que se diz indignado com o reajuste dos planos de saúde. No mês passado, o seu convênio médico foi reajustado em 25,89%, muito acima dos 11,69% autorizados pelo governo. Ele diz que não vê reajuste dessa proporção computado nos índices de inflação. A reação do aposentado foi manifestada de pois da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) de julho. O indicador registrou aumento de apenas 1,12% dos preços dos produtos e serviços ligados à saúde e uma alta de 2,82% nos contratos de assistência médica.

"Eu duvido dos índices que são publicados", diz Cohn, fazendo menção ao IPC-Fipe.Com uma aposentadoria de R$ 590, a sua renda mensal é complementada com a ajuda de um dos filhos. A despesa com o plano de saúde responde por 35% do seu orçamento doméstico, seguida pelos gastos com remédios, que consomem cerca de 20%. Ele observa que, enquanto os índices mostram queda nos preços, constata-se o inverso quando se vai à compras. "Parece que eles não vão ao supermercado", diz o aposentado.

O coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, argumenta que essa reação é muito comum entre os consumidores. "Ninguém nota quando os preços caem, só quando eles sobem."

O economista ressalta que os índices de inflação captam o movimento da média dos preços. No caso do plano de saúde, o porcentual de reajuste levado em conta pelo IPC-Fipe foi de 11,69% autorizado pelo governo. "Usamos o índice mais freqüente", diz Picchetti. Ele supõe que o plano de saúde do aposentado deve ter sido reajustado em reação de um critério específico.

De toda forma, o coordenador do IPC-Fipe lembra que além dos planos de saúde, outros itens entram na composição da inflação do setor, como remédios, serviços médicos e laboratoriais e aparelhos corretivos, como óculos, aparelhos para surdez, por exemplo. E esse é outro fator que atenua o movimento dos preços.

Também o fato de o IPC-Fipe levar em conta o reajuste de preços quando a despesa é paga, isto é no regime de caixa segundo o jargão dos economistas, contribui para que o impacto seja menor. "A nossa amostra de planos de saúde é bem distribuída ao longo do ano. A cada mês, é incorporado um doze avos do reajuste", diz.

Picchetti argumenta que a saída para corrigir esse tipo de desvio é o uso de índices setoriais. Nesse sentido, já existe o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade apurado pela Fundação Getúlio Vargas, onde os gastos com saúde têm peso significativo.