Título: IGP-DI registra deflação pelo 3.º mês consecutivo
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), indexador usado para reajuste da tarifa de telefone, teve em julho a terceira deflação consecutiva e caiu 0,40%, ante queda de 0,45% em junho. Segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o recuo inesperado, no atacado, de preços que deveriam estar subindo por causa da entressafra, como bovinos (1,54%); e quedas nos preços de commodities como café (10,44%) e soja (2,91%) asseguraram a deflação. Mas a perda de fôlego da influência da valorização do real e o aumento na conta de telefone no varejo ajudaram a diminuir a deflação. Uma nova queda no IGP-DI de agosto não está descartada, disse o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Segundo ele, mesmo em menor intensidade, ainda permanece o efeito benéfico da valorização do real, que puxa para baixo os preços dos insumos industriais relacionados ao dólar. Além disso, Quadros não eliminou a possibilidade de continuação na queda dos preços do café e do boi. "Pode ser que a deflação demore um pouco mais para se esgotar."

Marcela Prada, analista da consultoria Tendências, concorda. "Além de ainda não se observar nenhum sinal de retomada dos preços agrícolas como reflexo da entressafra, o câmbio voltou a apreciar-se. Desse modo, torna-se mais provável que os IGPs apresentem nova deflação em agosto."

Quadros admitiu que o IGP-DI trouxe dois bons sinais para os rumos de política monetária. O índice acumula altas de 1,12% no ano e de 4,88% em 12 meses (a menor alta desde fevereiro de 1999). Para Quadros, esse cenário pode ajudar o início da queda dos juros. "Acho que isso é um fator. Mas só não sabemos dizer quando ele será efetivamente considerado." Além disso, o núcleo da inflação do varejo, que elimina as principais quedas e altas da inflação do varejo, ficou em 0,30%, ante taxa de 0,42% em julho, o menor resultado desde outubro de 2000.

DIEESE

A deflação apurada em julho pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) foi maior para os consumidores com menor renda. Para esse grupo, com rendimento médio mensal de R$ 377,49, o recuo ficou em 0,45% ante 0,17% do índice médio cheio. Para os consumidores com renda intermediária (R$ 934,17), a taxa ficou negativa em 0,36% e os da classe mais rica (R$ 2.792,90) sentiram um alívio de preços médio de só 0,03%. "A inflação foi mais negativa para os menos aquinhoados", disse a coordenadora do Índice do Custo de Vida do Dieese, Cornélia Nogueira Porto.

Os alimentos e a energia (que tiveram deflação no mês passado, de 0,68% e 9,42%, respectivamente) foram os grandes responsáveis pela deflação. "Assim, as famílias com menor renda foram as mais beneficiadas, pois o peso desses serviços é bastante significativo na composição de suas despesas."