Título: Ministério vai às escolas incentivar talentos esportivos
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Vida&, p. A19

O Ministério do Esporte vai realizar testes de saúde e físicos com alunos nas escolas públicas e particulares do País para identificar talentos. A intenção é formar um banco de dados online com o perfil das crianças que se saírem melhor nas avaliações, deixando claro para quais esportes elas têm aptidão. As informações poderão ser consultadas por clubes, confederações e outras entidades esportivas. Os resultados das que não forem detectadas como talentos deverão ser usados pelas escolas para combater problemas de nutrição, crescimento e desenvolvimento. Um banco de dados inicial, feito a partir de um programa piloto no ano passado, será apresentado hoje pelo ministro Agnelo Queiroz Filho, no Rio. Entre as 77.878 crianças avaliadas em escolas de todo o País, 4.989 foram identificadas como talentos esportivos. "O próprio professor de educação física pode fazer o teste. A intenção é cada vez mais ligar o esporte à escola", diz o ministro. As escolas podem requisitar kits ao governo federal com cones, bolas, balança, fita métrica e um CD explicativo.

O teste foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Excelência Esportiva (Rede Cenesp), que reúne nove universidades federais. "Foi criado especialmente para as escolas brasileiras, de fácil aplicação e menor gasto possível", diz o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do programa Descoberta do Talento Esportivo, Adroaldo Gaya. O ministério gastou no projeto piloto R$ 600 mil e prevê custo de R$ 1 milhão até o fim do ano, com os testes feitos em 500 mil alunos.

Ele explica que a análise da saúde da criança mede resistência, nutrição, crescimento, capacidade cardiovascular, entre outros. Depois disso, elas são submetidas a corridas (medindo velocidade, resistência e agilidade ) , saltos e arremessos (medindo força e explosão). Todos os alunos recebem seus resultados e os 2% com os mais altos níveis de rendimento são considerados talentos.

"Pelo que sei, fui a única da escola", conta, orgulhosa, Glenda Suelen Pereira da Conceição, de 15 anos, que faz o ensino médio em uma escola estadual de Jacareí, no Vale do Paraíba. A menina diz que gosta de jogar basquete e vôlei, mas foi identificada no projeto piloto como potencial talento no atletismo. Em São Paulo, 672 entre 10.275 meninos e meninas tiveram rendimento acima da média. No Rio Grande do Sul, foram 804 entre 18.394. Santa Catarina teve o menor índice: 8.422 avaliados e 7 detectados.

"Meu sonho é ser engenheiro aeronáutico e poder jogar também handebol", diz Antonio Hochgreb de Freitas Neto, de 14 anos, que também foi identificado como talento em sua escola em Santo André. "A gente fez abdominal, corrida, salto, mas ainda ninguém entrou em contato comigo", conta.

O banco de dados - em que estão Antonio e Glenda - será tornado público hoje no site do ministério (www.esporte.gov.br). O governo pretende inaugurar 250 núcleos de esporte de base que poderão treinar essas crianças e jovens, além das entidades de esporte não-governamentais. "Se há um talento numa escola da sua proximidade, por que não trazê-lo para o clube?", diz o presidente da Confederação Brasileira de Clubes (CBC), Arialdo Boscolo. "Além disso, o esporte melhora a qualidade de vida dos jovens em geral e os deixa longe das drogas."

BOLSA ATLETA

Diferentemente de países como os Estados Unidos, onde o esporte é desenvolvido e apoiado principalmente por escolas e universidades, no Brasil são os clubes que congregam os atletas. O afastamento da escola e do esporte faz com que a criança acabe tendo de optar por um ou outro. "As políticas esportivas precisam mostrar que é possível treinar e estudar", diz o ministro Agnelo.

O ministério têm apoiado jogos estudantis e universitários e lançou no mês passado a Bolsa Atleta. Crianças e adolescentes em idade escolar e que praticarem esportes de rendimento podem requisitar o benefício de R$ 300, com a condição de permanecerem na escola. Há ainda variações para jovens, que incluem os universitários, com bolsas de R$ 750. Atletas que já ganharam jogos pan-americanos ou olímpicos e não têm patrocínio têm direito a requisitar bolsas de até R$ 3 mil.