Título: Terrorista judeu mata quatro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Internacional, p. A16

Um terrorista israelense de 19 anos com uniforme do Exército matou ontem a tiros no interior de um ônibus 4 israelenses de origem árabe e feriu 22. O agressor, que se opunha à retirada dos colonos judaicos da Faixa de Gaza, prevista para dia 17, foi linchado por árabes-israelenses enfurecidos. O ataque ocorreu no norte de Israel, no trajeto entre Haifa e Shefaram (habitada por árabes). "Trata-se de uma ação de um terrorista sedento de sangue com o objetivo arruinar as relações entre as comunidades israelenses", reagiu o primeiro-ministro Ariel Sharon.

Identificado como Eden Nathan Zaada, o assassino seria membro do grupo ultradireitista israelense Kaj, classificado como terrorista pelas autoridades israelenses. Zaada desertara havia dois meses do Exército para não participar das unidades envolvidas no desmantelamento das colônias judaicas na Faixa de Gaza e Cisjordânia.

Segundo uma testemunha, ele viajava na parte de trás do ônibus. Quando o veículo se aproximava do terminal em Shefaram, Zaada abriu fogo contra os passageiros. Os mortos são um passageiro, duas passageiras e o motorista do ônibus. Zaada teria sido linchado por moradores da cidade, que invadiram o ônibus. Até ontem à noite, o corpo permanecia no interior do veículo, que estava cercado pela polícia.

O Ministério do Interior israelense elevou o nível de alerta e deslocou milhares de agentes para o norte de Israel temendo uma explosão de revolta dos árabes da região, que, embora cidadãos israelenses, se dizem discriminados até pelo governo. Alguns líderes políticos da comunidade árabe-israelense acusaram o governo de provocar o atentado. Muhamad Barake, deputado de origem árabe, advertiu: "A responsabilidade sobre o atentado recai sobre o Executivo e o Poder Judiciário. A população árabe não ficará de braços cruzados."

A Federação Israelita do Estado de São Paulo divulgou nota repudiando veementemente o atentado.

Investigadores israelenses disseram que Zaada era natural de Rishon Letzion, ao sul de Tel-Aviv. Atualmente, residia no assentamento judaico de Tapuaj, no sul da Cisjordânia. Ali, teria se tornado um fanático, radicalizando suas posições políticas e ingressando na Kaj.

Essa organização estaria empenhada em abortar o plano de retirada dos colonos, de iniciativa de Sharon. Um forte deslocamento de policiais para o norte do país para conter uma explosão de revolta de árabe-israelenses enfraqueceria a posição das forças de segurança no sul, onde está a maioria das colônias a ser desmanteladas. Sharon, odiado pela extrema direita religiosa, que se diz traída, não vê como estabelecer a paz com os palestinos se 8 mil colonos israelenses continuarem na Faixa de Gaza. Protegê-los numa região onde vivem quase 1,5 milhão de palestinos seria uma tarefa quase impossível.

Na Faixa de Gaza, a polícia israelense tenta conter 15 mil israelenses, simpatizantes dos colonos, que pretendem dificultar a retirada com protestos nos assentamentos da região. Agentes prenderam 450 manifestantes e 150 colonos acusados de incitação à violência. Na Cidade de Gaza, milhares de palestinos saíram às ruas para festejar a retirada próxima. "Hoje Gaza, amanhã Jerusalém", gritavam.