Título: 'Dirceu é o chefe da quadrilha, Gushiken o auxiliar'
Autor: João Domingos e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A5

No depoimento de ontem na CPI do Mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) transformou-se num ferrenho defensor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - até mais do que os petistas presentes à sessão - e procurou livrá-lo de qualquer envolvimento com as denúncias. Mas sobrou para o ex-ministro Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos: "O José Dirceu é o chefe da quadrilha. Gushiken, o auxiliar." "Foi o Gushiken quem autorizou essa movimentação escandalosa das agências de publicidade de Marcos Valério", estocou Jefferson. "O mensalão não é ato isolado de Dirceu, ele não faria isso sozinho. José Dirceu e o Gushiken participaram do esquema. Mas era o Dirceu que era o chefe. As conversas todas eram com ele", insistiu Jefferson. E acusou Gushiken de juntar, num mesmo ministério, publicidade com fundo de pensão: "Deu no que deu."

PERSEGUIÇÃO

Jefferson foi muito provocado, mas em nenhum momento fez nenhuma insinuação a respeito da participação do presidente Lula em irregularidades. E disse, novamente, que comentou com quatro ministros sobre o mensalão. "Conversei com o Mares Guia (Turismo), o Ciro Gomes (Integração Nacional), duas vezes com o Antonio Palocci (Fazenda) e inúmeras com o José Dirceu (ex-Casa Civil)."

O petebista afirmou que, quando falou do assunto com o presidente Lula, este mostrou indignação. "Estou absolutamente convicto de que o presidente não sabia. Pelo teor da reação dele, ele não sabia."

Roberto Jefferson assegurou que, depois de comentar com o presidente Lula sobre o mensalão, passou a ser perseguido. "Passaram a perseguir eu e o PTB. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse que divulgaria corrupção em três órgãos administrados pelo PTB - o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), os Correios e a Eletronorte - logo depois que falei do assunto."

"Procurei o Dirceu e pedi que ele não viajasse, mas ele não me deu ouvidos. Depois, fiquei sabendo que os arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estavam lá nos Correios, querendo me pegar", prosseguiu Jefferson.

Foi por isso, justificou ele, que decidiu denunciar publicamente o mensalão. "O presidente Lula foi traído ou mal informado pelo José Dirceu."