Título: Portugal Telecom nega negociação com partidos
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A6

O presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, garante que a empresa não participou do financiamento a nenhum partido político brasileiro. Em entrevista ao jornal português Diário Econômico, Horta e Costa afirmou categoricamente: "Dizer que a Portugal Telecom apóia partidos políticos, no Brasil ou em qualquer outro país do mundo, é uma heresia." Horta e Costa disse que, como a empresa é cotada na bolsa, com auditorias e controles, nenhum procedimento ilegal seria aprovado pelos auditores independentes. E afirma que nunca se reuniu com representantes do PT e do PTB e que todos os contatos são institucionais.

"Recebi de fato o Marcos Valério", confirmou Horta e Costa. Segundo ele, Valério queria falar com um representante da empresa portuguesa, que à época tinha o objetivo de adquirir a Telemig Celular - cliente da sua empresa de publicidade DNA.

Segundo o presidente da Portugal Telecom, as relações com o Brasil são institucionais. "Quando vou a Brasília, tenho reuniões com ministros, com a Anatel e com alguns congressistas que acompanham o setor", justificou Horta e Costa. Ele contou, ainda, que os contatos com o presidente Lula destinaram-se apenas a discutir investimentos no Brasil.

SACO AZUL

Além da entrevista do presidente da Portugal Telecom, o escândalo no Brasil ganhou destaque em toda a imprensa portuguesa, dada a importância das empresas envolvidas.

O jornal Diário de Notícias destacou na edição de ontem que Lula estaria acossado pelas denúncias. Relata que o presidente teria ouvido no Palácio do Planalto as negociações para obter fundos para o "saco azul" - como os portugueses chamam o caixa 2 dos partidos.

O jornal conta que, apesar de desmentidos por parte da Presidência e da Portugal Telecom, os jornais brasileiros registram a denúncia de que a empresa de telefonia - que controla 50% da Vivo - teria feito doações a partidos que poderiam atingir R$ 100 milhões. Relata também que Marcos Valério foi apresentado por Horta e Costa ao ministro Antônio Mexia como "um grande empresário com influência no Brasil".

O jornal Público ressaltou na sua edição de ontem o desmentido da Portugal Telecom, dizendo que não participou do financiamento de partidos brasileiros. Citando a imprensa do Brasil, destaca que Marcos Valério foi recebido pelo então ministro Mexia e conta que a empresa de telefonia já investiu mais de 7 bilhões no País.

O Jornal de Negócios relata que a Portugal Telecom é a segunda empresa portuguesa envolvida nas denúncias feitas por Roberto Jefferson. A primeira foi o Banco Espírito Santo - que é o maior acionista português da empresa de telefonia.

COTAÇÃO ESTÁVEL

Apesar das denúncias, a cotação das ações da Portugal Telecom não sofreu grandes alterações, indicando que os investidores não acreditam que as denúncias vão afetar os resultados da empresa.

Uma das mais importantes analistas do mercado brasileiro, Cristina Casalinho, do BPI, acredita que neste momento não há um risco significativo para a economia brasileira.

Cristina aposta na estabilidade: "Mesmo na hipótese mais dramática, de destituição do presidente, as instituições são estáveis. Poderá haver um aumento da percepção do risco, mas momentâneo."