Título: Previ confirma negociação com Portugal Telecom
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A6

A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, estava negociando a venda da Telemig para a Vivo, controlada pela Portugal Telecom, desde dezembro de 2003, revelou ontem o presidente do fundo, Sérgio Rosa. A operadora portuguesa tem como principal acionista o Banco Espírito Santo (BES), de Portugal, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como a instituição com a qual o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza tentava negociar - segundo Jefferson, com o aval do ex-ministro José Dirceu - recursos para pagamento de dívidas de campanha do PTB e do PT.

Rosa informou que foi procurado pelo representante de um banco credenciado pela operadora para intermediar o negócio. Ontem ele não quis revelar o nome da instituição nem do interlocutor, mas negou que fosse o Banco Espírito Santo.

O BES era também a instituição que Marcos Valério tentou beneficiar com a transferência de recursos do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) aplicados no exterior. A direção do IRB recusou proposta do banco, feita em abril, para aplicar US$ 100 milhões das reservas da instituição no exterior, por falta de critérios técnicos.

Ontem, o Grupo Espírito Santo divulgou comunicado informando que tem investimentos de mais de US$ 1 bilhão no Brasil, afirmando que não tem vínculo com nenhum partido brasileiro. "Não financiamos partidos políticos no Brasil, nem temos qualquer relação de negócios com o Sr. Marcos Valério ou quaisquer de suas empresas", expressou o grupo.

CONTROLE DA TELEMIG

Sérgio Rosa não mencionou o nome da instituição nem do interlocutor que procurou a Previ, sob o argumento de que não há mais negociação em curso. Segundo ele, os encontros tiveram caráter técnico e negocial, sem pressão política para assegurar a transferência das ações para a operadora portuguesa.

Mas ele confirmou, no entanto, que o Conselho Deliberativo da Previ, então presidido por Henrique Pizzolato, orientou a direção do fundo a deixar o controle acionário da Telemig em 22 de outubro, o que não foi acatado pela diretoria.

A decisão do conselho, coincidentemente, aconteceu três dias depois da visita do presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, ao presidente Lula, em audiência no Palácio do Planalto. Rosa afirmou que nunca conversou com nenhum executivo da operadora portuguesa nem do BES e não relacionou a decisão do conselho presidido por Pizzolato a nenhuma interferência política.

"Nem conheço o sr. Marcos Valério", declarou ele ao Estado. Segundo ele, a Previ manteve apenas "conversas informais" com o representante da Vivo, já que precisaria do aval de todos os outros acionistas da Telemig, inclusive do Grupo Opportunity, de Daniel Dantas, para efetivar o negócio.

Rosa afirmou que os fundos de pensão patrocinados por empresas estatais - além da Previ, a Petros (dos empregados da Petrobrás) e a Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica) - estão dispostos a esclarecer qualquer procedimento adotado pela atual gestão. "Não temos nada a esconder", afirmou. Mas ele criticou a proposta de uma quebra de sigilo generalizada nas instituições.