Título: PF faz blitz na SMPB e na casa de Simone
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A9

A Polícia Federal começa ainda hoje a analisar os documentos, computadores, agendas, balancetes e notas fiscais apreendidos ontem em Belo Horizonte na sede das agências de publicidade SMPB e DNA, do empresário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. Um dos objetivos é checar se Valério mandou substituir os discos rígidos com a memória dos computadores e se apagou outras provas de crimes. A confirmação da denúncia vai subsidiar novo pedido de prisão preventiva contra ele. Os dois pedidos feitos até agora foram negados pela Justiça. As buscas e apreensões da PF atingiram também as residências de Simone Vasconcelos e Geíza Santos, funcionárias das agências de Valério encarregadas de controlar os saques bancários em favor de parlamentares e partidos políticos entre 2003 e 2005. Segundo denúncias que chegaram à polícia, Valério, além de alterar dados da memória do computador, estaria instruindo suas funcionárias na destruição de provas importantes para os inquéritos dos Correios e do mensalão.

As buscas e apreensões foram determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da CPI dos Correios. Certa de que a prisão preventiva do empresário está por um fio, a PF está há dias monitorando seus passos onde quer ele que vá, com equipes se revezando 24 horas do dia em campanas. Legalmente, Valério tem o direito de livre locomoção, inclusive para o exterior. Mas por se tratar de pessoa investigada, a PF tem o dever de segui-lo aonde quer ele que vá, segundo um delegado que atua no caso.

A prisão preventiva tem duração de 30 dias, renovável pelo tempo que durar o risco de dano à instrução criminal e é solicitada em casos de destruição de provas, ameaça à ordem pública e risco de fuga. No último pedido de prisão feito ao Ministério Público, a CPI observa que as precondições estão dadas no caso de Valério. Além do risco de fuga, representado pelo seu elevado patrimônio e poder de mobilidade, ele teria mandado incinerar documentos de interesse das investigações, na periferia de Belo Horizonte, há um mês. Entre os papéis destruídos, há notas fiscais frias, possivelmente referentes a contratos das empresas do publicitário com órgãos públicos.

As investigações já levantaram contra Valério indícios de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, formação de quadrilha e de crimes contra o patrimônio público e o sistema financeiro. Há uma forte desconfiança de que as operações de empréstimo, a que se referiram Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, em depoimento ao Ministério Público, possam ter sido arquitetadas para encobrir a origem ilegal do dinheiro usado no caixa 2 de partidos políticos.