Título: Empresa propôs negócio de R$ 16 mi, diz Buratti
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A10

O ex-assessor do ministro Antonio Palocci, Rogério Tadeu Buratti, decidiu quebrar o silêncio e afirmou ao Estado que foram os executivos da Gtech que o procuraram propondo um negócio, que poderia lhe render R$ 16 milhões, para que ele atuasse como lobista no governo federal e na Caixa Econômica Federal. O objetivo era viabilizar a renovação do contrato de loterias da multinacional com a Caixa. Disse ainda desconhecer Waldomiro Diniz - que teria indicado seu nome no negócio. Para ele, a Gtech está usando seu nome como bode expiatório para desviar as atenções nas investigações da CPI dos Bingos. Sobre as investigações sobre sua participação num esquema de fraudes em licitações, em Ribeirão Preto, afirmou que o Ministério Público Estadual se equivocou. " Eles imaginaram que eu era algo parecido com o Marcos Valério."

O senhor manteve algum tipo de negócio com a empresa Gtech?

Não. O que houve é que eu conheci um advogado da Gtech, em São Paulo. Perto da renovação desse contrato (de loterias com a Caixa), ele me procurou dizendo que os executivos da empresa queriam ter um encontro comigo, em Brasília.

Quem era esse advogado?

Enrico Gianelli.

O senhor foi ao encontro? Onde e quando ele ocorreu?

Sim, eu estava em Brasília e fui, não tinha problema. Foi no Hotel Blue Tree, pouco tempo antes da renovação. Estavam eu, o Marcelo Rovai e mais um outro, que eu acho que se chama Marco Antônio Rocha.

O que vocês conversaram nessa reunião?

Eles me falaram que tinham um investimento muito alto nesse processo de informatização do sistema de loterias e a renovação era fundamental para eles. Falaram que já tinham tido conversas com alguém do governo, mas não me falaram quem era. E disseram que na Caixa a negociação estava difícil e eles queriam renovar o contrato por pouco tempo e exigiam um desconto muito grande. Disseram que tinham tomado conhecimento de mim, que eu tinha trabalhado com o ministro (da Fazenda, Antonio) Palocci, com o José Dirceu e com o deputado João Paulo (Cunha). E que tinham tido notícias de que eu poderia ter acesso ao governo.

Queriam então que o senhor atuasse como lobista para eles na Caixa?

Atuasse objetivamente como lobista, a palavra é essa. Na Caixa e no governo.

O senhor tinha contatos na Caixa?

Meu único contato era um amigo meu, o Ralf Barquete (morto no ano passado), que tinha entrado naquela semana na Caixa como assessor. O cargo que ele ocupava não dava nenhum tipo de acesso a esse tipo de negociação. Ele trabalhou com o Palocci, mas era muito meu amigo.

Qual foi o acerto firmado após essa reunião?

Minha resposta foi que, apesar de eu ter trabalhado com essas figuras, que no momento eram os proeminentes da República, eu já estava fora do PT desde 1995 e, portanto, não tinha mais essas relações no partido.

O senhor recusou o serviço?

Recusei e eles citaram que a Gtech sempre teve a tradição de ter nos seus quadros pessoas que tivessem relações políticas. Citaram inclusive que o ex-senador José Richa (PSDB), já falecido, havia sido membro do conselho de administração deles na época que o governo era do PSDB, mas sem fazer nenhum tipo de acusação.

Em algum momento foi dito quanto pagariam pelos seus serviços?

A tabela ia de R$ 500 mil a R$ 16 milhões. Porque tinha uma vinculação, conforme eu já falei, sobre o menor desconto e maior prazo.

O senhor conhece o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz?

Não, não conheço, nunca tive nenhuma relação. Só o conheço pela imprensa. Quebraram meu sigilo telefônico e viram que nunca houve nenhum contato meu com ele.

A que o senhor atribui o fato de vincularem seu nome ao de Waldomiro no suposto esquema de cobrança de propina a Gtech?

Quando eu estive com os executivos da Gtech não fizeram nenhuma menção ao Waldomiro Diniz. Eu acho, agora que foi descoberto, que eles (GTech) fizeram depósitos para uma outra empresa no mesmo período, que jogaram meu nome como bode expiatório. Uma forma de eles se livrarem e saírem como bonzinhos da história.

A que o senhor atribui as acusações do Rovai?

Eu acho que ele busca fazer isso para mostrar que a empresa dele foi achacada de maneira orquestrada e eu fui o agente disso. O engraçado é que ele assinou o contrato. Então, se eu era a condição para assinar esse contrato, como ele assinou sem me contratar? Nunca recebi nada. A Polícia Federal quebrou meu sigilo e nunca teve nenhum recebimento.

O senhor se sente perseguido pelo Ministério Público que o investiga também em Ribeirão Preto por fraudes em licitações?

Não acho que é uma perseguição. Eu acho que, quando aconteceu o caso da Gtech, eles imaginaram que eu era algo parecido com o Marcos Valério. Que eu era uma pessoa que tivesse uma empresa que recebesse vultosas quantias de contratos do governo e repassasse esse dinheiro para A, B,C e D. Mas, na prática, isso não aconteceu. Eles imaginavam que eu fosse alguém que tivesse alguma relevância no plano nacional dentro desse enfoque. Agora, existe um inferno sobre a minha vida. Quero ser tratado como um suspeito comum, não como um suspeito culpado.