Título: Defesa do caso Santo André abre crise no PT
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A11

O pagamento de R$ 545 mil ao escritório de advocacia de Aristides Junqueira, feito por uma empresa de Marcos Valério - apontado pela CPI dos Correios como operador do mensalão -, provocou nova crise no PT e no governo. O diretório nacional do PT não encontrou recibos de quitação do valor que teria sido pago, por ordem do ex-tesoureiro Delúbio Soares, para saldar dívida da seção estadual do partido com Junqueira. Não é só: o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, diz nunca ter ouvido falar em Marcos Valério e está furioso com Delúbio. "Tudo indica que se trata de mais uma contabilidade paralela", afirma o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini. A dívida paga por Valério seria referente aos serviços prestados por Aristides Junqueira para a defesa do PT no caso Celso Daniel, prefeito de Santo André que foi assassinado, em janeiro de 2002. Daniel era o coordenador do programa de governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

Ex-procurador-geral da República, Junqueira é tão amigo de Lula que seu nome chegou a ser cogitado para vice na chapa presidencial, em 2002. O advogado Pedro Campos Fonseca, sócio de Junqueira, diz ter ficado perplexo quando soube que o dinheiro recebido pelo escritório era oriundo de contas de Marcos Valério.

A informação sobre os saques que totalizam R$ 545 mil consta da lista de beneficiários apresentada à CPI por Simone Vasconcelos, diretora-financeira da SMPB - empresa de Valério. Fonseca destaca que o contrato para a "defesa institucional" do PT no caso Santo André, no valor de R$ 500 mil, foi assinado em 3 de setembro de 2002 com o presidente do diretório paulista do partido. A alegação do sócio de Junqueira é que, como Paulo Frateschi não pagou a conta, depois de um ano o escritório de advocacia cobrou a fatura de Delúbio.

Os R$ 45 mil que compõem a cifra seriam referentes à defesa de outros petistas - como o próprio Delúbio, o ex-ministro Olívio Dutra e a senadora Emília Fernandes - também feita pelo escritório. O pagamento foi feito em cinco parcelas.

Frateschi sustenta que o PT paulista não pagou nada a Junqueira porque, depois de assinar uma "proposta de honorários para defesa de interesses do PT", em 2002, o advogado nunca prestou contas do serviço ao diretório estadual. Diante da falta de informações, Frateschi diz ter considerado a "minuta de contrato" rescindida.

"Não recebemos qualquer comunicação ou documento do escritório do Dr. Aristides Junqueira. Não recebemos relatório do serviço prestado, nota de cobrança, nota fiscal nem recibos", assegura Frateschi.

Nos bastidores, integrantes do diretório estadual sugerem que a transferência de R$ 545 mil, feita por Marcos Valério, pode ser referente a outra empreitada que não teria ligação com o partido.

Desde o ano passado o PT paulista vive em confronto com Delúbio. Em meados de 2004, a cúpula do partido chegou a chamá-lo para uma conversa. Motivo: o então tesoureiro havia centralizado a arrecadação de recursos para as campanhas municipais, mas não estava repassando o combinado. Em São Paulo, dirigentes do PT dizem, em conversas reservadas, que o dinheiro foi distribuído por fora, via operadores selecionados por Delúbio nos Estados.