Título: Cheiro de pizza está forte, acusa Denise Frossard
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A13

A deputada Denise Frossard (PPS-RJ) causou alvoroço ontem na reunião da CPI dos Correios ao revelar que teme um grande acordo entre governistas e oposicionistas, evitando que seja desvendado o verdadeiro esquema de corrupção envolvendo partidos políticos e o governo. "O cheiro de pizza está fedendo na sociedade", disse Denise. A deputada alertou para o excesso de frentes de investigação.

"A CPI está rolando ladeira abaixo. Procura-se o mandante principal, mas temos de ter foco. Hoje, vamos ouvir o carregador de malas. Esse não é nosso trabalho, estamos fazendo o trabalho da polícia", reclamou a deputada.

Ela se referia ao depoimento do policial civil David Rodrigues Alves, que fez saques das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, suspeito de ser responsável pela arrecadação de dinheiro para o PT e outros partidos e de distribuir mesadas para deputados aliados do governo.

Denise lembrou que, enquanto ouve pessoas que cumpriam ordens dos responsáveis pelo esquema, a CPI não marca data, por exemplo, para o depoimento do ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP).

'INDIGNAÇÃO'

A deputada provocou a reação de vários parlamentares que integram a CPI, a começar pelo presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Reajo com indignação a qualquer suspeita de acordo. Esta CPI não fará acordo", assegurou.

Parlamentares da situação e da oposição garantiram que a CPI apresentará resultados. "Um acordão significa a cassação de 513 deputados e 81 senadores', comentou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Antes do depoimento do policial civil, também a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) mobilizou os companheiros de comissão, ao ser surpreendida por um requerimento do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) para que ela fosse convocada a depor na CPI.

Guerra alegou que era preciso ouvir responsáveis pelos diretórios estaduais do PT que receberam dinheiro de Marcos Valério.

Ele incluiu no requerimento também o deputado Jorge Bittar (RJ).

"Só posso interpretar como chantagem, ameaça. Não sou dirigente do PT do meu Estado", protestou Ideli.

Guerra acabou retirando o requerimento, alegando que vai esperar a CPI decidir se investigará ou não os diretórios estaduais do PT.

Para Bittar, o requerimento foi "uma palhaçada, parte da guerrinha boba" entre PT e PSDB dentro da comissão.

PROTEÇÃO

Ideli disse que pediu proteção à Polícia Federal para ela própria e para sua família. "Minha filha e minha nora têm recebido telefonemas dizendo que minha vez vai chegar. Estão varrendo minha vida, vão ao prédio onde meu filho mora, procuram gente que trabalhou comigo", disse a senadora petista.

Ideli procurou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que determinou que a Polícia Federal "faça um monitoramento".

A senadora esclareceu que nem ela nem seus parentes estão sob a guarda permanente da PF.

Ela disse não saber de onde vêm as ameaças, mas informou que elas começaram depois do enfrentamento com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

A senadora ingressou com queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jefferson - ele insinuou que a petista fosse beneficiária do mensalão. Ela pede indenização por danos morais.