Título: PT avisa que não reconhecerá dívida mesmo com Delúbio como avalista
Autor: Guilherme Evelin e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A14

A revelação de que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares é avalista e devedor solidário dos empréstimos contraídos pelo publicitário Marcos Valério de Souza não mudou a disposição da nova direção do partido a respeito de suas supostas contas pendentes. O PT não vai reconhecer tal débito, que chegaria a R$ 121 milhões. Para o presidente do partido, Tarso Genro, o documento é a prova de que Delúbio agiu por fora da estrutura partidária. "Está confirmada nossa visão de que o partido não foi responsabilizado pelo Delúbio nessas relações." "Caberá às pessoas que se sintam prejudicadas, inclusive Marcos Valério, procurar seus direitos na Justiça", afirmou o secretário de Comunicação, Humberto Costa.

Documento obtido pelo Estado mostra que em julho de 2004 Delúbio assumiu com o Banco de Minas Gerais (BMG) "compromisso irretratável e irrevogável" de garantir as operações assumidas pelas empresas de Valério e pelo próprio PT. "Se é um compromisso assumido pela pessoa física do Delúbio, ele que resolva", afirmou o presidente da Comissão de Ética da legenda, Danilo de Camargo.

Em depoimento marcado para domingo na comissão, Delúbio será questionado a respeito do documento. Reunida ontem, a Executiva do PT decidiu manter Camargo na presidência da comissão em votação apertada: 6 foram a favor de sua permanência, 5 foram contra e 4 se abstiveram, inclusive Tarso. Por conta da margem estreita, Camargo recebeu apelo do segundo vice-presidente do PT, Valter Pomar, para que renuncie. Camargo alega que não se sente impedido, mas prometeu dar uma resposta até domingo.

No sábado ele foi declarado "suspeito" por Luix da Costa, que justificou seu pedido pelo fato de Camargo não ter comunicado sua presença numa reunião com o deputado cearense José Nobre Guimarães e o ex-assessor do BNB Kennedy Moura, após a descoberta de quase R$ 500 mil - parte na cueca - com José Adalberto da Silva. Guimarães admitiu ter recebido R$ 250 mil de Valério.

A Executiva decidiu encaminhar para o Diretório Nacional, que se reunirá amanhã, a decisão sobre a suspensão sumária de Delúbio por 60 dias, até que seja julgado na Comissão de Ética. Também remeteu ao diretório duas propostas para esclarecer as denúncias de caixa 2 no PT. A primeira, apresentada por Tarso, recomenda aos diretórios estaduais que declarem contribuições por fora e comprovem as despesas, de forma a regularizar a prestação de contas oficial. Pomar propôs a criação de um grupo de trabalho para examinar as denúncias.

Também caberá ao diretório decidir se adia ou não as eleições internas, marcadas para setembro. Hoje à noite, a esquerda do PT realiza uma manifestação "contra a política econômica, as alianças espúrias e a corrupção" que deve se transformar em ato contra o adiamento do PED. Pelo menos quatro candidatos a presidente do PT estarão presentes.