Título: Em discurso, ele se compara a Getúlio Vargas
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A15

Com mais críticas às elites, à imprensa, a seus antecessores e ao abandono do Nordeste pelos governantes de outras regiões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou-se indiretamente ontem ao presidente Getúlio Vargas (1930 a 1945 e 1951 a 1954), por causa dos ataques que sofreu por criar a Petrobrás, nos anos 50. Em mais um ponto da "agenda popular" a que tem se dedicado nos últimos dias para enfrentar a crise política, Lula afirmou em Floriano (PI), na inauguração da primeira fábrica de biodiesel da Brasil Ecodiesel, que Vargas foi "achincalhado" por criar a estatal.

"Estamos aqui hoje começando um embrião que em 1954 Getúlio Vargas começou quando teve a coragem, contra os interesses da elite política, de dizer ao Brasil que a gente iria fazer a Petrobrás e aqui a gente iria produzir nosso próprio petróleo", disse Lula. "Naquele tempo, ele foi achincalhado. A imprensa da época não cansou de fazer editoriais contra a decisão de construir a Petrobrás. Hoje a Petrobrás é, sem dúvida nenhuma, a empresa brasileira de maior orgulho para todos os 186 milhões de brasileiros."

Em discurso para cerca de 2 mil pessoas, Lula lembrou que o biodiesel pode ser feito a partir de vários produtos, como coco de dendê, soja e girassol, e explicou a escolha da mamona como forma de ajudar o Nordeste, onde ela se desenvolve com facilidade. "Escolhemos a mamona porque, se a gente não escolhesse a mamona, a gente ia ver o biodiesel ser produzido da soja", disse.

"E se fosse produzido da soja, iria beneficiar, apenas, mais uma vez, as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O Nordeste iria ficar abandonado." Brincando, Lula prometeu pedir ao presidente dos EUA, George W. Bush, que não produza biodiesel a partir do milho. "Eu vou lá falar com o Bush: ô Bush, dá milho para as galinhas e vá comprar o nosso biodiesel da mamona!"

Para ele, a mamona é como o povo nordestino: agüenta sol, agüenta seca, terra ruim e não morre. "Uma fonte de esperança para milhões e milhões de irmãos nordestinos que, como eu, sabem o que é sobreviver nesta terra, muitas vezes abandonada, governada por gente do Sul, ou do Sudeste, que via o Nordeste apenas como celeiro de pobreza ou de desgraça."

"Eu conheço esse povo, porque tenho o sangue deste povo nas veias. E sei que, quando a gente não morre antes de um ano de idade, a gente vai viver e vai fazer muita coisa por este país", disse. Lula afirmou que visita o Piauí desde 1980 e vê a cara sofrida do povo. "Nordestino nasceu para ser muito mais do que isso", completou.