Título: Lula lembra da mãe, fala em Jesus e chora
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2005, Nacional, p. A15

Um lenço foi pouco para enxugar o pranto copioso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, numa vila de agricultores incrustada no alto sertão piauiense, em meio a muito calor e poeira. Ao discursar um público de mil pessoas, ele se lembrou da mãe, dona Lindu: "Minha mãe teve o azar de chegar a São Paulo e encontrar o marido casado com outra mulher. Estou dizendo isso para dizer uma coisa: convivi com ela até 1980, quando morreu. E nunca vi minha mãe perder a esperança", relatou, sob lágrimas. Depois da lembrança da mãe, Lula contou que volta ao Nordeste no mês que vem para anunciar o início das obras da ferrovia Transnordestina, um investimento de R$ 4 bilhões do governo. Informou que a ferrovia ligará cidades nordestinas a portos do Ceará e de Pernambuco e desafiou a geografia: "Nós temos que ter uma ferrovia para ligar vários países."

REVOLUÇÃO DA MAMONA

Lula contou que, ao assumir o poder, um amigo lhe disse que o governo poderia fazer "uma revolução com a mamona", um dos vegetais usados na produção do biodiesel. "Eu falei: (revolução) é comigo mesmo", relatou ontem o presidente, que antes pensava que a mamona "só servia para fazer óleo de rícino e guerra de peteca e estilingue." Anunciou que o governo reduzirá impostos para o setor de biodiesel e comprará a produção das áreas de assentamentos.

Lula visitou uma família participante do projeto de biodiesel no cerrado piauiense; colheu mamona e acompanhou o processo de beneficiamento das sementes da planta. Ao falar da importância do biodiesel, repetiu discurso recente, lembrando que o Brasil não tem furacão, neve ou terremoto. "Aqui, Deus passou e falou: este povo é muito bom", afirmou. E completou: "Lamentavelmente, Ele não deu governo bom durante muito tempo para ajudar esse povo sofrido."

Consolou os presentes: "Muitas vezes as pessoas perdem a esperança, desanimam, mas o Brasil tem jeito." Ressaltou que Guaribas, a primeira cidade a usufruir do Fome Zero, não tinha instituto de beleza. "Agora tem", entusiasmou-se. "Volto para Brasília mais convicto de que o Brasil tem jeito".