Título: Diferença cultural logo superada
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Metrópole, p. C1

Foi o coreógrafo Ivaldo Bertazzo quem convidou o massagista ayurvédico indiano Rajeev Nokkencheri, de 29 anos, para vir ao Brasil. Faz cinco anos. "Gostei das pessoas, tão legais, abertas. Muito diferente da Índia, onde minha família é rígida. Cheguei a voltar, mas resolvi morar aqui. Quero cidadania." Entre os clientes da massagem, que inclui cuidados com alimentação e busca do equilíbrio corporal, estão Bertazzo, o diretor regional do Sesc, Danilo Miranda, e a jornalista Cynthia Benini, do SBT. Apesar da empatia, alguns hábitos o impressionaram. "Na Índia, homens e mulheres não saem juntos. Muito menos na praia."

Praticante da religião hindu, ele mantém costumes como meditar e usar uma espécie de saia em casa. "Na rua não dá. Ando de jeans." Ele incluiu peixe e frango na dieta. "Mas carne vermelha não tem jeito."

A designer de moda, que "está dona de casa", Preeti Lamba, de 30 anos, fez mais concessões. "Não cozinho carne de boi em casa, mas, se vou a uma churrascaria, como picanha."

Ela mal tinha acabado a pós-graduação, quando a vida deu uma guinada, há sete anos. "Casei e vim direto para o Brasil. Sofri para aprender o português e, nos primeiros seis meses, tive muita saudade", conta ela, que mora em Moema. "Aí comecei a gostar de São Paulo, cheia de prédios como minha cidade, Mumbai (ex-Bombaim)."

O primeiro filho nasceu na Índia. Mas o segundo é brasileiro. Ela só tem medo da violência. Foi assaltada na Avenida Brigadeiro Luís Antonio, num domingo, às 11 horas. "Dois jovens colocaram uma arma na minha cabeça e outra no meu filho."

O marido é sikh - religião em que os adeptos usam cabelos compridos escondidos sob turbantes. "No Brasil ele cortou e não quero que meus filhos sigam a tradição. Não é bom chamar atenção por ser diferente."

É de sári de seda laranja que a cantora Ratnabali Adhikari, de 49 anos, 29 vividos no Brasil, abre a porta do apartamento em Perdizes. O traje típico leva 5 metros de tecido enrolados ao redor do corpo. "Mas não ando pela rua assim."

Quem souber um pouco dos costumes indianos, mantidos por ela, vai logo abandonar os sapatos ao entrar na casa. "A gente fica bastante no chão e precisa estar limpo", diz ela, que dá aulas de canto e instrumentos da Índia, como o tanpura, com quatro cordas.

Ratna veio de Calcutá para o Brasil em 1976 com o marido, Sadhan, físico nuclear. "Foi convite do governo. Agora, ele trabalha na Unesp." Com mestrado em história, enveredou para a música. Fez até parte da trilha sonora do filme Bellini e a Esfinge, do Titã Tony Bellotto. "Brasileiros têm interesse pela Índia."

Como é comum na colônia, ela costuma encontrar indianos nas festas, na casa de amigos, bares ou num dos três restaurantes típicos da capital. "Tenho visto mais indianos em São Paulo", diz o dono do Govinda, Mukesh Chandra. Ele desistiu do greencard americano pelo amor de uma paulistana.

"Era professor na Universidade de Cornell, nos EUA. Vim ensinar hotelaria no Brasil e não voltei mais." Já tem quatro unidades de seu restaurante na cidade, além importar artigos de decoração, móveis e vestuário da Índia e da Tailândia. "Meu sonho é fazer um centro religioso que atenda todos os indianos." Talvez saia em 2006.

Outra novidade do país asiático deve ser uma casa de temperos indianos no Itaim, perto do restaurante Delhi, de Dineshsing Ganeshing Rajput, de 33 anos, no País há 8. "Minha mulher chegou há 3. Foi a família quem arranjou o casamento. Nos conhecemos e casamos em 14 dias."