Título: Um pedaço da Índia em São Paulo
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Metrópole, p. C1

No sábado, cinco dias após a data oficial, um grupo de indianos vai se reunir para comemorar a Independência da Índia. Será em São Paulo, na inauguração informal do restaurante Delhi, que só vai abrir para o público no fim do mês. Dos 150 convidados, Richa Agarwal, da Associação Indiana de São Paulo, acredita que 30 ou 40 sejam veteranos no Brasil. "Os demais devem ter vindo nos últimos cinco anos para morar ou estão de passagem, trabalhando em projetos de empresas", diz a brasileira de 22 anos, filha de indianos. Não há dados oficiais que comprovem, mas a comunidade, pequena, é verdade, notou um ligeiro aumento. "Estamos até reativando a associação", diz Richa. Segundo a Polícia Federal, há cadastrados no País 2.678 indianos desde 1989 - 1.227 temporários.

A PF não divulga estatística ano a ano que comprove o crescimento. Mas o Consulado da Índia na capital, que cuida dos Estados de São Paulo, Rio, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, confirma que havia 204 famílias residentes até 2003 nessa região. "Só no ano passado, vieram mais 20", afirma o assessor comercial do consulado, Márcio Faveri. A maior parte das famílias, 163, vive no Estado de São Paulo, 120 na capital. São José dos Campos vem em segundo, com 21 famílias.

Mesmo antes de pisar aqui, Manish Narvania, de 31 anos, já tinha negócios no Brasil. Exportava tecido, roupa, artigos de decoração. Mas foi o amor que o fez morar em São Paulo. "Conheci Manuela em Jaipur, numa festa num palácio. Casamos no Brasil há quatro anos", diz Narvania, que mantém a fábrica na Índia e tem como clientes as grifes Donna Karan e Gucci, além da parisiense Galeria Lafayette. Em São Paulo, atende a Daslu, a decoradora Tânia Bulhões e o estilista Alexandre Herchcovitch e tem duas lojas e um show room. "A paulistana foi passear e importou um indiano."

Manish nunca havia pensado em morar aqui. "Na Índia, só conhecem praias e carnaval. Pouco sabem do potencial comercial. Mas está mudando."

Ele diz que adora o Brasil, especialmente a hospitalidade. "Aqui tem liberdade, algo diferente no ar. Mas sofri no começo por causa da comida." A culinária tem mantido um hábito entre os indianos na cidade: visitar os amigos. Por isso, eles não são muito vistos por aí.

"Quando cheguei, não conhecia ninguém. Logo arrumei dois irmãos: Patrícia Romano e seu marido, Sreedharan Pillai Madhusudanan Nair, o Madhu." Curiosamente, a brasileira Patrícia é apontada pelos indianos como uma das melhores bailarinas de dança clássica da Índia. "A minha escola, a Natayalaya, é filial de uma escola indiana." Sua filha Ananda, de pai brasileiro, também aderiu à cultura indiana.

Madhu chegou há 26 anos. Engenheiro, tinha contrato de dois anos com a Companhia Siderúrgica Nacional. Ficou. "O número de indianos é pequeno, mas está aumentando." Muitos vêm para a indústria farmacêutica e a área de informática. "Alguns vão embora quando vence o contrato. Outros ficam."