Título: Com resultado, a decepção: filho registrado não era seu
Autor: Luciana Garbin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Metrópole, p. C8

- Tô tremendo. Acho que nem consigo abrir o envelope. Se quiser me ajudar, eu agradeço. - Quer que eu leia?

- Por favor.

- Essa primeira parte do laudo traz explicações que você pode ler mais tarde. Nessa hora de ansiedade, costuma-se ir direto ao resultado. E o que a gente encontrou é que o garoto não é seu filho. Analisamos 18 endereços do DNA. Sete não coincidem com os seus.

Desde que a ex-colega de trabalho engravidou e o apontou como pai, Alexandre, de 20 anos, esperava acabar com uma dúvida: se era ou não pai de Danilo, de seis meses.

Na semana passada, ela foi desfeita pelo diretor-executivo da Genomic Engenharia Molecular, Manoel de Sá Benevides, ao ler o laudo.

"Acompanhei a gravidez, o pré-natal. Na época, fiquei na dúvida, a data que o médico dava não batia com a da noite em que tivemos relação. Foi uma noite só. Mas o bebê nasceu, acabei registrando. Não queria que ele tivesse 'pai desconhecido' na certidão", diz Alexandre. Já apegado ao bebê, chegou a desistir do DNA. "Mas ela impôs dúvidas. Falou que havia feito teste com outro, que deu negativo, mas não mostrou."

Dividido, ele diz sentir-se "aliviado" pelo esclarecimento. E pensa no que fazer. "Já falei com o advogado, ele disse que para tirar meu nome da certidão é processo longo." Vai querer tirar? "Vou. Por um lado, tem o constrangimento da mãe, mas também teve o meu, quando ela me apontou como pai. Não estou preparado para assumir um filho que não é meu."

Casos como o de Alexandre são minoria. De cada dez testes de DNA realizados, sete confirmam o examinado como pai da criança. Benevides lembra que a tecnologia hoje adotada, que garante mais de 99,99% de certeza no resultado, foi desenvolvida nos Estados Unidos e é usada pelo Exército americano para ajudar, por exemplo, na identificação de ossadas.

Há 15 anos, cada exame custava R$ 3 mil. Hoje, sai na Genomic por R$ 990,00 e é realizado em quase 50 laboratórios pelo Brasil, incluindo os públicos. Com 2.500 laudos por mês, o Instituto de Medicina Social e Criminologia (Imesc) de São Paulo é o maior da América Latina. Mas atende apenas casos encaminhados pela Justiça, em que mães entram com ação para confirmar gratuitamente a paternidade e, a partir daí, exigir registro, pensão e, em casos mais raros, herança.

"Há dois anos, tínhamos 20 mil famílias na fila da coleta. No próximo mês, quando acabarem os mutirões pelo interior, não teremos mais nenhuma", garante o superintendente do Imesc, Sidney Carvalho Júnior. "E a fila de entrega também caiu de 2 anos para 4 meses."

Em clínicas particulares, o tempo médio de entrega de um laudo é de uma semana, mas é possível conseguir o resultado em até 23 horas. Do Imesc, o laudo segue direto para o juiz; nas clínicas pagas, uma cópia vai para a mãe, outra para o suposto pai.