Título: Crise política no centro das atenções
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Tomado por inquietações crescentes, mercado aguarda dividido a reunião do Copom, que decide o rumo dos juros quarta-feira

O agravamento da crise política expôs a fragilidade da resistência do mercado financeiro ao noticiário produzido pelas diferentes frentes de investigação de denúncias de corrupção e empurrou para o segundo plano a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que decide na quarta-feira o rumo da taxa básica de juros. O acirramento da crise fortaleceu aparentemente a ala do mercado que prevê a manutenção do juro básico em 19,75% ao ano, pelo Copom, até como reforço à estratégia ortodoxa que mantém a economia separada das inquietações alimentadas pelo cenário político. Mas há também uma corrente que considera possível, ainda que não provável, a hipótese do início do ciclo de redução dos juros neste mês para desviar o foco da crise política para a economia, setor em que o governo ainda exibe bons indicadores.

O gerente da mesa de câmbio da Liquidez Corretora, Francisco Carvalho, prevê a estabilidade da taxa básica, pelo segundo mês consecutivo, mas comenta que, com a piora dos últimos dias, a crise política será tema de discussão entre os participantes do Copom. "Embora a inflação esteja caminhando para a meta (de 5,1% pelo IPCA para este ano), os juros devem começar a recuar apenas em setembro, talvez com um corte maior", acredita.

Outro fator que pode desestimular a queda da taxa básica nesta semana é a escalada dos preços do petróleo, que vêm de sucessivos recordes - o barril para entrega em setembro em Nova York fechou sexta-feira cotado por US$ 66,86 -, aponta Carvalho. A analista da SLW Corretora, Kelly Trentin, que também trabalha com a manutenção do juro, lembra que a alta do petróleo tem sido uma das preocupações recorrentes nas atas mais recentes do Copom. Kelly engrossa a ala dos que projetam a queda do juro básico apenas a partir de setembro.

O investidor está cada vez mais arisco e de prontidão, atento às notícias e declarações que possam empurrar de vez o presidente Lula no caldeirão da crise, mas por enquanto os movimentos nos mercados refletem ajustes, principalmente das tesourarias de bancos. "A alta do dólar nos últimos dias refletiu uma diminuição da posição vendida dos bancos", comenta o gerente da Liquidez, referindo-se à mudança de estratégia das tesourarias de uma posição de baixa para outra de possível valorização da moeda americana.

A analista da SLW Corretora comenta que apenas um forte agravamento de expectativas com os desfecho da crise política pode acelerar a valorização do dólar. Do ponto de vista do fluxo de recursos, principalmente originários da balança comercial, o dólar não teria fôlego para fortes altas, acredita.

Outra preocupação dos mercados, aponta, é que a piora do cenário político levou a uma sensação de paralisia do governo, sem nenhuma articulação no Congresso, que está debruçado apenas no trabalho das CPIs.