Título: Endividamento segura calote maior
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Economia & Negócios, p. B1,3

Crédito com desconto em folha ajuda a conter inadimplência, que está elevada na comparação com o ano passado

O comerciário Leonardo Alves, de 31 anos, é o retrato da inadimplência. Com uma dívida atrasada de R$ 2,5 mil acumulada no cheque especial, em lojas e no cartão de crédito, que é mais do que o dobro da renda mensal de R$ 1,2 mil, ele quer obter um empréstimo consignado de R$ 3 mil. O dinheiro será gasto para quitar a dívida e ainda vai lhe sobrar algum trocado. Alves não está sozinho nesse universo de consumidores. De cada dez paulistanos, praticamente sete estão endividados hoje. Em julho eram seis, revela pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). Dos endividados, 32% já usam o crédito consignado, mostra enquete que ouviu mil paulistanos este mês.

O crédito consignado colocou água fria na fervura da inadimplência, que atingiu o pico em abril e arrefeceu em maio e junho, mas continua em níveis elevados ante 2004. O Indicador Serasa de Inadimplência do Consumidor registrou em abril a maior marca em quatro anos: 182,15 pontos num índice de base 100 que começou a ser apurado em janeiro de 2001. Em maio, a inadimplência recuou para 176,17 pontos. Em junho, ficou em 177,71, praticamente estável.

Apesar do arrefecimento, a inadimplência de junho é 7,9% maior que a registrada no mesmo mês de 2004. O indicador é nacional e inclui cheques, títulos protestados, dívidas com varejistas, cartões de crédito e financeiras. Tudo isso sem considerar as influências sazonais.

Esse aparente alívio no calote pode ser uma bomba de efeito retardado para a inadimplência, alertam os analistas. É que muitos consumidores que pegaram crédito consignado ainda não se deram conta de que terão uma receita menor para arcar com os compromissos.

"A inadimplência pode começar a pipocar em outras linhas de financiamento fora do crédito consignado", prevê o assessor da Serasa, André Chagas. Ele aponta a estagnação da renda em 12 meses até junho e a elevação dos juros em quase 4 pontos porcentuais no mesmo período como fatores que contribuem para esse movimento. Além disso, ele atribui o nível elevado da inadimplência à forte expansão do crédito ao consumidor, que teve crescimento real, em 12 meses até junho, de 28%. Só o crédito consignado mais que dobrou no mesmo período (116%).

"O crédito consignado alivia, mas pode propiciar uma inadimplência no médio prazo", diz a diretora da Fecomércio-SP, Fernanda Della Rosa. Pesquisa mostra que houve, pelo segundo mês consecutivo, redução dos paulistanos endividados com contas em atraso. Em junho, a fatia era de 52%, caiu para 49% em julho e para 46% este mês. Essa retração pode ser efeito do consignado com renegociação de dívida. Mas ela alerta para ampliação do endividamento, que atingiu um limite perigoso.