Título: Precárias, velhas colônias abrigam ex-doentes
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Vida&, p. A13

No passado, ter hanseníase significava ser excluído do convívio social. Os doentes eram levados à força para hospitais colônias. Os primeiros datam do século 18. Acreditava-se que era a única forma de conter a doença. Eram verdadeiras cidades, com escola, cinema, igreja, cemitério, manicômio e até prisão. E professores, padres, delegados, enfermeiros e mecânicos, todos hansenianos internados. O temor do isolamento era tanto que alguns preferiam fugir e desenvolver a doença.

Com a descoberta da cura, o Brasil aboliu a internação em 1962. Restam hoje 30 das 101 colônias que o País chegou a ter. Deixaram de ser hospitais e são habitadas por ex-doentes que simplesmente não tinham para onde ir. Como pagamento de uma dívida histórica, ganharam o direito de continuar nessas cidades, com casa e comida.

A dívida não está sendo paga adequadamente. Um levantamento do governo nos 30 locais mostra que há "uma total desassistência aos moradores das colônias", principalmente no Norte e no Nordeste. Esquecidos, muitos dos 5 mil ex-doentes moram em casas velhas, sem a propriedade dos imóveis, em locais onde as ruas são de terra e o esgoto não é tratado. Asilos que cuidam de quem possui seqüelas não têm médicos e enfermeiros suficientes. "Em algumas colônias, os idosos estão em estado de completo abandono. Há até prostituição infantil", diz Artur Custódio, do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.

No mês passado, o Ministério da Saúde reuniu os diretores das colônias para buscar soluções. Apesar de a maioria estar sob a gestão estadual, o governo federal liberou uma verba de emergência de R$ 3,5 milhões para as instituições em estado mais crítico. "A situação das outras é tão degradante que não tive coragem de pedir dinheiro para cá", diz Marcio Leite, diretor do hospital de Itu (SP), um dos poucos em bom estado.