Título: Israel inicia retirada histórica
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Internacional, p. A9

Governo começa a remover 21 colônias na Faixa de Gaza, com a devolução do território aos palestinos

JERUSALÉM - Milhares de policiais e soldados israelenses interditaram todos os acessos à Faixa de Gaza para impedir a entrada de judeus radicais e ativistas da extrema direita nos assentamentos e deram início oficialmente à operação de retirada histórica dos colonos e devolução do território aos palestinos. A operação total deverá ser concluída no início de setembro. Os colonos têm 48 horas para sair voluntariamente. Decorrido o prazo, serão retirados à força. Israel quer evitar que radicais (estimados em 5 mil) consigam ainda entrar nas colônias para reforçar a posição dos moradores que insistem em ficar (ler mais na página seguinte).

"Estamos em alerta máximo", disse Moshe Karadi, chefe da polícia israelense. "Fechamos as rodovias que levam ao sul do país, a partir de Tel-Aviv."

Por sua vez, 7.500 policiais palestinos estenderam um cordão de isolamento perto das colônias judaicas para evitar que os retirantes sejam hostilizados por milicianos palestinos durante a retirada. A presença das forças palestinas na região faz parte de um acordo com Israel. Mesmo assim, ouviram-se algumas explosões de granadas de morteiro no assentamento de Gush Katif quando alguns colonos partiam. Não houve vítimas. Em outro incidente, um blindado israelense trocou tiros com grupos palestinos perto de Gaza. Nesse incidente, cinco soldados ficaram feridos. Eles teriam sido vítimas de "fogo amigo". O blindado teria disparado, por engano, contra um veículo militar israelense.

No fim da noite, jovens judeus atacaram um jipe do Exército na entrada do assentamento de Neve Dekalim. Estouraram os pneus, quebraram vidros e queimaram mapas retirados do interior do veículo.

Os 50 mil policiais e soldados mobilizados para ingressar nos assentamentos (21 em Gaza e 4 na Cisjordânia) têm ordens para agir com firmeza. Apesar disso colonos estariam bloqueando as entradas dos assentamento, para dificultar o ingresso das forças de segurança. Consultado, Avner Shimoni, presidente do Conselho de Assentamentos de Gaza, evitou comentários. "É claro que não vamos simplificar as coisas para os que vêm aqui com a intenção de nos expulsar", limitou-se a dizer. E acrescentou: "60% dos moradores permanecerão em suas casas, o restante deverá sair até quarta-feira."

Segundo fontes policiais, era pequeno no domingo o número de colonos que deixavam os assentamentos rumo ao norte de Israel. Muitos veículos puxavam carretas com pilhas de malas, colchões e cadeiras. O general Dan Harel, comandante israelense em Gaza, calcula em 5 mil o total de colonos resistentes (ler na Página A10 ) . "Acreditamos que não vão impedir a ação da polícia e do Exército", disse ele. "Acho até que vão dar mais colorido à retirada, que deverá transcorrer sem violência."

Pesquisas de opinião indicam que a maioria dos israelenses apóia o plano de desmantelamento dos assentamentos de Gaza e Cisjordânia do primeiro-ministro Ariel Sharon.

Com a retirada israelense já em andamento, o Hamas procura firmar posição no território. Militantes do grupo reuniram-se no fim de semana com representantes da Autoridade Palestina para debater o "direito" do Hamas de prosseguir sua campanha armada até a "libertação total" da Palestina.