Título: Presidente avalia hoje hipótese de nova fala
Autor: Leonencio Nossa, Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz hoje, às 9 horas, na Granja do Torto, uma reunião com o chamado 'gabinete de crise', para avaliar melhor os estragos causados ao governo pelo depoimento do publicitário Duda Mendonça, na CPI dos Correios. Ontem, em Recife, assessores do presidente negaram que Lula vá fazer um novo pronunciamento à Nação, mas em Brasília outros assessores confirmaram que na reunião de hoje essa nova fala será avaliada por insistência de alguns ministros. Nela, Lula usaria uma linguagem mais direta e franca, insinuando nomes que merecem receber punição. A auxiliares, Lula tem indicado preocupação com o surgimento de novas denúncias. A absoluta imprevisibilidade sobre os futuros movimentos dos escândalos é que tem emperrado uma decisão definitiva do presidente. Numa crise que se renova a cada dia, seus principais assessores e conselheiros compartilham com ele uma grande preocupação com as novidades que poderão surgir nos próximos dias e dizem que fica difícil adotar medidas definitivas com a permanente mobilidade que tem marcado o cenário político.

No início da tarde de sexta-feira, por exemplo, Lula chegou a comemorar a normalização do mercado, logo após sua fala. No final do dia já tinha consciência de que não havia conseguido atender à expectativa da sociedade. Quando leram os jornais de sábado, Lula e seus assessores se certificaram que o tiro fora equivocado.

O presidente está convencido a manter um certo distanciamento do PT, daqui por diante, movimento que é aprovado por seus principais conselheiros. 'O objetivo é separar um pouco o partido do governo. O PT lá e o governo cá, mantendo uma relação mais institucional e menos umbilical com o partido', comentou um auxiliar próximo ao presidente. O relacionamento deixa de ser 'de pai para filho' e passa a ser mais 'profissional', explicou. Daqui por diante, as conversas com petistas deixarão de ser individuais; serão priorizadas as reuniões com líderes.

Quem também está enfrentando problemas com o partido a que é filiado é o vicepresidente e ministro da Defesa José Alencar. Sua situação ficou delicada depois que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que Lula e ele sabiam que o apoio do PL foi comprado pelo PT. Alencar também pensa em se afastar do PL, podendo até mesmo se desfiliar.

Aos auxiliares, o presidente Lula tem dito repetidamente que foi vítima. Diz estar 'chocado' com as notícias que vê na imprensa e com o teor dos depoimentos.

E questiona como foi possível que, em tanto tempo, ele não soubesse de nada.