Título: Alckmin: 'Não é hora de debater impeachment'
Autor: Leonencio Nossa, Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Nacional, p. A5

Para governador, discussão sobre o tema ainda é prematura e só atrapalha as investigações para identificar e punir os responsáveis pelo esquema de corrupção

RECIFE - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem que o debate sobre um possível impeachment de Lula só serve para prejudicar as investigações do suposto esquema de corrupção no Palácio do Planalto e nos partidos da base aliada do governo. Em entrevista durante o velório de Miguel Arraes, Alckmin afirmou que "não é hora de falar sobre isso". "Esta não é uma discussão para se fazer agora. O caminho é aprofundar as investigações e buscar a verdade, a justiça e punir os responsáveis." A uma pergunta se já existem elementos para abrir um processo de cassação do mandato do presidente, o governador se esquivou e reafirmou que "entende" que esta não é a hora apropriada para levantar a discussão sobre um afastamento de Lula. "Isso é uma coisa totalmente descabida e fora de hora", salientou. "Não vejo dessa forma", completou. Sobre as vaias (ver reportagem ao lado), Alckmin disse que a manifestação também foi uma "coisa totalmente descabida e fora de hora".

Num discurso afinado com José Serra contra o governo Lula, o governador disse que o País precisa de coerência. "Ele (Arraes) deixa o exemplo de coragem, de coerência e luta pela justiça social. É tudo o que o Brasil está precisando", afirmou o governador. "Perdemos o querido Mário Covas, Leonel Brizola e Miguel Arraes. Ficam os seus exemplos, exemplos mais do que nunca necessários", afirmou o governador.

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), também insistiu que falta no País a virtude da coerência política - qualidade atribuída a Arraes por aliados e adversários. Em entrevista no Palácio do Campo das Princesas, Serra minimizou as vaias que recebeu no velório e lembrou que esteve com Arraes no comício pelas reformas na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964.

"Talvez eu seja agora o único vivo dos que discursaram durante o evento. Sou o último sobrevivente", disse. A uma pergunta se reivindicava para si também o título de último sobrevivente da esquerda e do socialismo, respondeu: "Do comício é certo. O resto a gente teria de analisar."

Serra minimizou as vaias que recebeu ao chegar ao velório ."Isso foi uma torcida organizada do PT, do que ficou do PT."

O prefeito negou que esteve no Recife para fazer campanha, e evitou ataques ao presidente. "A campanha hoje está suspensa", brincou. Também comentou a pesquisa de opinião que o coloca em vantagem sobre Lula num eventual segundo turno em 2006. "Aqui não é momento de falar de política de conjuntura, mas toda pesquisa em que apareço bem avaliado é motivo de recompensa e satisfação."

PSB

Lideranças do PSB informaram que o deputado Eduardo Campos (PE), neto de Arraes, deverá assumir a presidência do partido com a morte do avô. O PSB já tinha marcado para o próximo fim de semana, em Brasília, um congresso nacional da legenda.