Título: Collor pensou em suicídio quando foi afastado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Nacional, p. A6

O presidente que se consagrou pelo uso da expressão "não me deixem só" nas falas ao povo brasileiro, sentiu-se absolutamente sozinho no dia em que o Congresso votava o seu impeachment e, neste momento, pensou em suicidar-se. Foi o que revelou ontem o ex-presidente Fernando Collor em depoimento ao programa Fantástico, da TV Globo. Collor prometeu que vai se afastar definitivamente da política e, "em nenhuma circunstância" será candidato a qualquer cargo.

Num tom dramático, bem a seu estilo, disse que esperou a votação decisiva do Congresso sozinho em seu gabinete no Palácio do Planalto. Num dado momento, ouviu um rumor forte, "como se fosse um gol num estádio". Foi quando percebeu que estava politicamente derrotado. Pensou: "Estou perdido". E cogitou em suicídio. "Foi um sofrimento atroz."E não se suicidou porque lembrou de uma conversa com o ex-governador Leonel Brizola.

Segundo o relato, ele teve um encontro com Brizola semanas antes do desfecho da crise e Brizola, dizendo-se observador próximo do drama vivido pelo ex-presidente Getúlio Vargas, disse-lhe: "Getúlio deu fim à vida. Eu lhe peço que resista". No momento crítico da decisão, Collor diz ter-se lembrado deste diálogo, que o teria salvado. "Isso me ajudou. Quando pensei no suicídio, me vieram à mente as palavras de Brizola."

Collor reconheceu, 15 anos depois, que o recurso de usar depoimentos e imagens da ex-namorada do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, Miriam Cordeiro, dizendo que tinha tentado o aborto "não foi de bom gosto, de bom tom". A campanha de Collor pagou a Miriam para acusar Lula de ter pedido a ela que abortasse a filha de uma gravidez inesperada.

Por fim, Collor reconheceu que não conseguiu levar o seu mandato até o fim porque não soube conquistar maioria no Congresso e admitiu que um de seus erros mais graves foi "o mau relacionamento com o Congresso".