Título: CPI quer quebrar sigilo de Duda
Autor: Diego Escosteguy, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Nacional, p. A8

Nova linha de investigação, a Conexão Duda, tenta descobrir onde foram parar recursos depositados por Valério ao marqueteiro

BRASÍLIA - Em razão dos furos na versão apresentada pelo publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, integrantes da comissão abrem nesta semana uma nova linha de investigação, apelidada de "Conexão Duda". A CPI não tem mais dúvidas de que o publicitário mentiu à comissão para justificar a versão de que recebeu no exterior somente dinheiro de caixa 2 da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os parlamentares querem quebrar os sigilos bancários de Duda, da sócia dele, Zilmar Fernandes, e de todas as suas empresas e offshores, para descobrir onde foram parar os recursos depositados por Marcos Valério de Souza nas contas do publicitário lá fora. A "Conexão Duda" já é considerada a linha mais explosiva de investigação da CPI. Motivo: a proximidade do publicitário e de Zilmar com Lula e o Palácio do Planalto. "O Duda falou a verdade em alguns pontos e mentiu em outros tantos. A CPI precisa urgentemente dos dados bancários dele para identificar o que mais foi feito com o dinheiro. Ele tem contas milionárias com o governo e é evidente que a offshore não recebeu apenas caixa 2 de campanha", diz o senador Demósthenes Torres (PFL-GO), integrante da CPI.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) concorda. "Temos de ver com reservas a veracidade do depoimento de Duda." Para ele, a CPI precisa saber quem intermediou as contas e os depósitos de Duda no exterior e, principalmente, quem recebeu estes recursos.

Integrantes da CPI foram ao Ministério da Justiça na semana passada pedir ajuda para o envio de ofícios aos países, mas só devem ter retorno em questão de semanas. O Departamento de Recuperação de Ativos, órgão do governo responsável pela interlocução com paraísos fiscais, já entrou em contato com os governos dos Estados Unidos, das Bahamas e das Ilhas Cayman. Os EUA costumam cooperar mais rápido e devem enviar o rastreamento de possíveis contas de Duda e de Valério em poucos dias. O problema será obter resposta dos governos de Cayman e das Bahamas, que sempre impõem empecilhos e prazos dilatados para enviar informações sigilosas sobre as offshores e suas contas.

A versão levada por Duda à CPI e à Polícia Federal é frágil em vários pontos. O primeiro é a própria razão da abertura da conta nas Bahamas. Segundo o publicitário, a abertura da conta foi exigência de Valério. O empresário rebate: "Foi o Duda que pediu para receber lá fora."

O segundo ponto inconsistente é o destino do dinheiro. Duda alega que precisava quitar dívidas com fornecedores, mas, quando recebeu os R$ 10,6 milhões no exterior, não movimentou os recursos.

Duda também sustenta que o dinheiro depositado nas Bahamas veio de contas no exterior. No entanto, a comissão já descobriu que 35 dos 40 depósitos tiveram como origem saques no Banco Rural. Outra inconsistência é a versão de Duda de que ele só teria uma conta no exterior. A PF e o Ministério trabalham com a informação de que o publicitário também utilizou offshores para receber dinheiro em campanhas passadas e na prospecção de clientes na Europa e na Argentina.

Integrantes da CPI também desconfiam dos valores cobrados pelo publicitário em 2002. Duda afirmou à comissão que fechou um pacote de R$ 25 milhões para todas as campanhas, mas os parlamentares já descobriram que só a eleição de Lula custou bem mais do que isso